'Vidas Secas' é relançado em edição comemorativa de 80 anos

Correio do Cidadão - Cristiano Martinez - 17/12/2018 |

Tudo começou com Baleia. Antes mesmo de Fabiano, sinhá Vitória e seus filhos aparecerem no horizonte do semiárido nordestino, a famosa cachorrinha já existia no universo ficcional do escritor alagoano Graciliano Ramos (1892-1953).

É que o velho Graça, como também era conhecido, escreveu primeiro o conto sobre a “morte duma cachorra” e só depois começou a dar forma ao restante do romance “Vidas Secas”, cujo lançamento ocorreu em 1938. Aliás, na última hora Ramos mudou o título da obra, trocando “O mundo coberto de pennas” por “Vidas Seccas” (conforme a grafia da época), na edição publicada pela lendária editora José Olympio.

Recém-lançada pela Record, a edição comemorativa de 80 anos do romance reproduz o rosto original de “Vidas Secas”, a partir do acervo da Universidade de São Paulo (USP).

No entanto, o detalhe mais fascinante ao aficionado pela literatura de Graciliano Ramos é a inserção nessa edição comemorativa de trecho de uma carta de 7 de maio de 1937. Do Rio de Janeiro, o autor se correspondeu com sua esposa Heloísa Ramos (em Alagoas) para falar sobre um conto cujo tema era a “morte duma cachorra”. Ele se questiona se o animal tem alma. “O meu bicho morre desejando acordar num mundo cheio de preás. Exatamente o que todos nós desejamos”.

Graça ainda informa que é a quarta história feita na pensão onde ele está instalado. “Nenhuma delas tem movimento, há indivíduos parados. Tento saber o que eles têm por dentro”.

Nesse relato íntimo, o alagoano conta brevemente a gênese de seu mais famoso livro. O pontapé de “Vidas Secas” inicia com a feitura de um conto sobre a morte de uma cachorra. Inclusive, a nova edição da Record reproduz no capítulo “Baleia” o manuscrito original com as emendas feitas de próprio punho do escritor.

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