G1 - Luciano Trigo - 01/12/2018 |
O ano de 2018 chega ao fim com o mercado editorial e livreiro do Brasil vivendo uma das maiores crises de sua história. Consideradas gigantes do setor, as redes de livrarias Cultura e Saraiva – responsáveis pela venda no varejo de 40% dos livros no país – entraram em processo de recuperação judicial, fechando lojas em dezenas de cidades, demitindo em massa e dando um calote de mais de R$ 300 milhões nas editoras. Mas esta é apenas a parte visível do iceberg.
Com alguma experiência acumulada em diferentes pontas do setor – como editor de suplementos literários em jornais e revistas, como autor de mais de uma dezena de livros publicados, como editor de títulos de ficção e não-ficção em algumas editoras e até mesmo como agente da política pública (além de, evidentemente, como leitor inveterado e verdadeiramente apaixonado por livros) – minha impressão é que não se trata de uma crise conjuntural, mas da falência de um modelo que já vem há anos dando sinais de esgotamento.
E não falo apenas do aspecto econômico: é certo que se trata de um mercado no qual, considerando receitas e despesas, geralmente a conta não fecha. Mas outro aspecto essencial da crise é simbólico: ao longo dos anos, o espaço dos livros físicos na vida dos leitores diminuiu, tanto como forma de entretenimento quanto como ferramenta essencial e indispensável de formação e emancipação. Este é um fenômeno sociológico que se pode lamentar, mas que não pode ser negado.
É claro que isso decorre de aceleradas transformações tecnológicas e comportamentais associadas à digitalização, que multiplicam a oferta de conteúdos que disputam a atenção e o tempo cada vez mais escasso do consumidor de bens culturais. Mas houve também, é necessário que se diga, uma resistência psicológica do mercado editorial a compreender o real impacto dessa mudança, tanto nos ambientes físicos quanto nos virtuais.
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