Ministério da Cultura - 10/09/2018
O menino saiu do rio, mas o rio não saiu dele. Há dez anos, o amapaense Jonas Banhos viaja levando livros para as crianças de comunidades ribeirinhas, reservas extrativistas, indígenas e quilombolas com o projeto Barca das Letras, distribuindo livros, contando histórias, incentivando a leitura e montando bibliotecas. O Projeto ganhou dois prêmios do Ministério da Cultura (MinC), o Tuxaua Cultura Viva, em 2010 e o Prêmio Leitura para Todos: projetos sociais de leitura, em 2014. Em 2017, foi agraciado com a Lei Rouanet.
Nesse período, a Barca visitou cerca de 50 municípios, por volta de 70 comunidades e doou mais de 70 mil livros. "Estimo que já brincamos com mais de 10 mil crianças", conta Jonas Banhos, autor do projeto. Funcionário público, Jonas saiu da sua terra natal e morou nas capitais do Amapá, do Pará, Ceará, Goiás e hoje está na capital do Brasil.
"Eu nasci na cidade, mas minha família é oriunda de uma comunidade quilombola, Conceição do Macaoari, e minha mãe sempre fez questão de manter esse vínculo. Minha relação com o rio, com a floresta, com a vida em coletivo sempre foi muito forte. Mesmo morando em grandes cidades, sempre estive muito ligado às minhas origens", relata.
Jonas explica que seus pais sempre incentivaram a leitura e que, quando pequeno, lia gibis e ouvia as histórias nos compactos coloridos de vinil. "Na minha casa a leitura sempre foi muito presente, mas isso não é a realidade das populações que vivem à beira dos rios. Isso me deixava muito triste, quando eu voltava para minha comunidade via tudo estagnado no campo das políticas públicas, parecia que nada tinha saído do lugar, até hoje não tem escola no meu quilombo e eu queria fazer algo diferente", explica.
E ele fez. Montou a Barca das Letras com livros doados e desceu o rio, em companhia de voluntários do projeto. "Chegamos em algumas comunidades que não tinha nem luz elétrica! Era uma festa. Algumas crianças só tinham visto os livros didáticos. Gibis, livros de literatura infantil, desenhos, poesia, era tudo novidade. Era tanto olhinho brilhando, tanta curiosidade que não cabe em palavras", relembra o comandante da Barca.
Jonas diz que o apoio do MinC ajudou a ampliar o projeto, comprar livros novos, alugar um barco, proporcionar maior conforto para os voluntários e também a enviar exemplares pelos Correios, além de sair do Amapá e poder visitar outras regiões. Quem comprova o sucesso do projeto é professor Dernival dos Santos Kiriri. Ele é uma das lideranças na Aldeia Cajazeira, Terra Indígena Kiriri, em Banzaê (BA).
"Sempre que a Barca chega na aldeia é pura diversão. A primeira vez foi uma grande surpresa, foram quatro dias de atividades. As crianças nunca tinham visto um livro. Foi tão intenso que quando a Barca voltou, no ano seguinte, as crianças sozinhas preparam um presente para o Jonas, elas contaram uma história para ele. Foi muita emoção, para todos", lembra o Kiriri. A Barca, que também navega pelo Sertão, visita a aldeia desde 2012. Atualmente, a escola da aldeia, Índio Feliz, possui uma biblioteca com aproximadamente cinco mil títulos.
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