Lembro-me do meu primeiro dicionário escolar. Tesouro guardado até hoje. De tanto espiá-lo, no verso e no inverso das palavras, encontrei-me em saber – um curioso que sou – sobre isso, aquilo e tantas outras coisas. Em “bio” – elemento que tem o sentido de “vida”, a biografia das coisas vivas.
Na biodiversidade, o número incerto das espécies. Nas espécies – diversas e mutantes –, as descobertas da sabedoria humana. Em “biblio” – elemento relativo a livro, a bibliografia das coisas vivas e escritas.
Na bibliodiversidade – biblioteca das almas – a razão aplicada ao mundo do livro, onde as mutações – provavelmente infinitas – são títulos. Há quem diga que, para cada título na Biblioteca de Babel, existe uma história por segredar, um poema na garrafa no inquieto mar, um bilhete açoitando o tempo, uma luz de letras no céu azul e um verbo qualquer, ainda por resfolegar um destino.
Preocupo-me – além da conta – com a concentração das linhas mal traçadas, das capas empilhadas no chão, das lombadas desiguais da noite, causando – quem sabe, inocentemente – o desequilíbrio abrasador da sorte. Aprendi desde muito cedo a espiar. A observar o diverso, o diferente e o variado. Coisas do instante?
Na livraria das espécies falta quase tudo da biblioteca das almas. Olho e não vejo o princípio nem o fim. Falta – e me falta – o simetricamente oposto ao inverso do verso. Quase poesia! Preciso escrever sobre bibliodiversidade, para falar – aos pares – sobre as ideias do mundo sem-fim. Juro – aqui com os meus pecados – que estou tentando, teimoso que sou. E mortal.
João Scortecci
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