“IN MEMORIAM” DE NELLY NOVAES COELHO / POR MARIA MORTATTI

A ensaísta, crítica literária e professora, Nelly Novaes Coelho (São Paulo/SP, 17.5.1922 – 29.11.2017), foi professora, entre 1961 e 1976, da cadeira de Teoria da Literatura na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Marília (incorporada à Universidade Estadual Paulista, em 1976, e onde trabalho desde 1991).

Em 1965, ingressou como professora assistente de Espanhol e de Língua Portuguesa, na Faculdade de Filosofia Letras Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, tendo-se tornado professora titular em 1985. A partir de 1971, atuou como professora convidada em curso de Literatura Portuguesa em universidades portuguesa e estadunidense, além de ministrar cursos em universidades em outros estados brasileiros. Em 1980, criou a cadeira sobre literatura infantil no curso de Letras da USP, uma das metas do CELIJU (Centro de Literatura Infantil e Juvenil), de cuja fundação fez parte, com as escritoras Camila Cerqueira César e Lúcia Pimentel Goes.

Aposentou-se – compulsoriamente - em 1992 e continuou atuando como professora e orientadora convidada. Atuou também pelo incentivo à criação de bibliotecas públicas na cidade de São Paulo e presidiu a Associação Paulista de Críticos de Arte.  

É autora de obra com mais de 200 títulos, entre livros, capítulos de livros, artigos em periódicos e artigos, resenhas e ensaios em jornais. Entre eles, destaco os livros A literatura infantil: história, teoria, análise (1981), Dicionário Crítico da Literatura Infantil e Juvenil Brasileira (1983, com sucessivas atualizações), Dicionário Crítico de Escritoras Brasileiras (2002), Escritores Brasileiros do Século XX – Um testamento crítico (2013) e Tecendo literatura entre versos e olhares (2015). Recebeu prêmios e homenagens no Brasil e em Portugal, como: Prêmio Bocage (1966), Prêmio Jabuti/ Ensaio (1974), Prêmio Clara Ramos (1997), pela União Brasileira de Escritores; Sala Nelly Novaes Coelho (2007), homenagem da Diretoria das Bibliotecas Públicas do Estado de São Paulo/Secretaria de Cultura de São Paulo.

Seu falecimento, aos 95 anos de idade, foi noticiado pela família somente um mês depois, quando também se soube da situação a que fora submetida: isolada em uma clínica, com visitas proibidas, interditada judicialmente. E o compromisso dos netos - anunciado em 2004 - de criarem uma fundação para abrigar sua biblioteca particular de 10 mil livros, nas áreas de literatura brasileira, portuguesa e infanto-juvenil, não se concretizou. Vários livros dela foram vendidos a sebos paulistanos.  

Essas notícias causaram-me perplexidade, como a todos que sabem do valor de seu trabalho e seu legado para a história, teoria e crítica da literatura, em especial de seu pioneirismo nos estudos sobre literatura infantil brasileira, referências obrigatórias a todos os estudiosos do assunto. Justamente por esses motivos, seu livro A literatura infantil: história, teoria, análise é um dos clássicos analisados, por Fernando R. Oliveira, no livro que organizamos: Clássicos sobre literatura infantil brasileira (1843-1986) (2020)*.  

Certa vez, entrei em contato por telefone para convidá-la para compor a banca de tese de doutorado de uma orientanda. Com inigualáveis simpatia e delicadeza, agradeceu pelo convite. Ficou feliz com a possibilidade de retornar à faculdade em Marília, onde iniciou sua carreira acadêmica. Recusou, porém, justificando: “É uma viagem arriscada para minha idade”.  

Não a conheci pessoalmente, mas continuo admirando e difundindo seu legado. Esta nota, no quarto ano de seu falecimento, é minha modesta homenagem a sua memória. Nelly Novaes Coelho, presente. Sempre!  

Maria Mortatti – 29.11.2021 

* E-book gratuito: https://ebooks.marilia.unesp.br/index.php/lab_editorial/catalog/book/213