FOLHA - 05.02.2021 - ISABELLA MENON
Antes previsto para ser reaberto no primeiro trimestre de 2021, o Museu da Língua Portuguesa tem uma nova data oficial de reinauguração. De acordo com Sérgio Sá Leitão, secretário de Cultura e Economia Criativa do governo de São Paulo, o prédio histórico voltará a receber o público no dia 17 de julho. Até lá, a previsão é que a instituição passe por um espécie de esquenta —ou de "soft opening"—, com programação online e visitas para alunos de escolas públicas. O museu está fechado desde 2015, quando pegou fogo durante duas horas, o que causou a morte de um bombeiro civil. As chamas destruíram o segundo e terceiro andares, e a reforma custou R$ 84 milhões, divididos entre a iniciativa privada, o governo do estado de São Paulo e a seguradora.
O local está praticamente pronto, com a restauração e a ampliação concluídas. As exposições também já estão montadas, e a conexão direta com a estação da Luz foi finalizada - agora falta apenas a iluminação externa do prédio. Sá Leitão diz que a decisão de atrasar a reinauguração para o segundo semestre está relacionada à pandemia. “A expectativa é que, com a evolução da vacinação e a contenção da pandemia, a gente esteja em julho na fase verde ou amarela [do plano estadual de quarentena], quando já conseguiremos ter 60% de capacidade, o que é mais adequado para receber a nossa demanda”, afirma o secretário.
Conhecido por abrigar exposições imersivas, que propõem interação dos visitantes com as obras, o museu precisou repensar algumas partes das mostras para evitar o toque nelas em meio à pandemia. Esta adaptação foi mais simples, relata Sá Leitão, pois a tecnologia ativada por comandos de voz já vinha sendo desenvolvida antes do surto de Covid-19, na busca por ampliar a acessibilidade aos visitantes.
O novo valor do ingresso do museu ainda não foi definido, mas a expectativa é que tenha, ao menos, um dia da semana gratuito.
O prédio da Estação da Luz, onde está o museu, existe desde 1902 e foi construído para ser a grande porta de entrada da cidade, por onde passariam o café do interior e os imigrantes vindos de Santos. Uma outra estação, mais modesta, funcionava ali desde 1867.
A partir dos anos 1950, com o incentivo ao transporte por automóvel, porém, as ferrovias caíram quase no ostracismo. Foi no centenário do prédio, em 2002, que começaram as obras de restauração do edifício. Parte do local, que estava em estado de abandono, recebeu o Museu da Língua Portuguesa, que abriu oficialmente as portas em 2006.
Mas o incêndio de 2015 não foi o primeiro no local. Em 1946, o fogo engoliu parte da estação. As chamas, segundo noticiou a Folha da Manhã na época, destruíram o famoso relógio da estação, que fica no alto de uma torre.
Para evitar novos desastres, o museu reabre, pela primeira vez, com o alvará do corpo de bombeiros, o AVCB (Auto de Vistoria do Corpos de Bombeiros). “Foi um processo bastante exigente, é um edifício histórico e tombado”, relata Sá Leitão.
Entre as novidades do museu, está a abertura do mirante, na parte superior, onde fica o relógio com vista para o Parque da Luz —ali será instalado um café, e o local será utilizado para diferentes atividades. Antes, a área não era acessível ao público, pois a estrutura não aguentava o peso de pessoas circulando por ali. Com a reforma, o espaço foi reestruturado.
A exposição permanente do local também foi repensada. De acordo com Sá Leitão, cerca de 80% do conteúdo foi reformulado. O museu também vai abrigar mostras temporárias, sendo que a primeira é “Língua Solta”, que faz uma relação entre obras de arte e a língua portuguesa. Nela, estarão objetos que ancoram seus significados no uso das palavras e que foram produzidos por artistas como Leonilson, Rosângela Rennó, Jac Leirner, Emmanuel Nassar e Jonathas de Andrade.
Sá Leitão avalia que debates em relação à língua também poderão estar presente na instituição, como a linguagem neutra, sem flexão de gênero, adotada por quem não quer enquadrar alguém como puramente masculino ou feminino.
“É importante a gente entender que a língua é um patrimônio cultural vivo. Este é um assunto que vem ganhando espaço. Podemos despertar uma discussão saudável sobre esse assunto que vá além da lacração contra ou a favor", diz.
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