Bibliotecas escolares exercem impacto positivo entre os alunos, principalmente nos de famílias de baixa renda, indica estudo

Abre livros - Por Márcio Ferrari - 01/07/2019 |

Há duas datas previstas em lei para a universalização das bibliotecas nas escolas públicas do Brasil. Pela Lei nº 12.224, de 2010, todas as unidades de ensino devem estar equipadas com bibliotecas até 2020; pelo Plano Nacional da Educação (PNB), até 2024. Parece difícil imaginar que qualquer um desses prazos será cumprido. Segundo o Censo de 2017 do Ministério da Educação (MEC), 61% das escolas ainda não têm bibliotecas. Além disso, desde 2015 está suspensa a distribuição de livros pelo Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) do governo federal.
Para avaliar o impacto das bibliotecas no aprendizado dos alunos e pesar quais são os fatores que garantem um funcionamento eficaz, o Instituto Pró-Livro (IPL) – fundado em 2006 por associações nacionais de editoras – promoveu pesquisa em 17 estados do país envolvendo cerca de 500 escolas (de um total de 142.573) com bibliotecas ou salas de leitura que participaram da Prova Brasil em 2015. Os resultados iniciais do estudo, intitulado “Retratos da leitura – Biblioteca escolar”, foram anunciados em abril.
“Temos duas conclusões principais”, informa a socióloga Zoara Failla, gerente de pesquisas do IPL. “A primeira é que bibliotecas e salas de leitura promovem melhor desempenho dos alunos em português e matemática. A outra é que o impacto se torna maior conforme aumenta a vulnerabilidade social das regiões em que as escolas se inserem.” O objetivo principal foi correlacionar os dados obtidos na aplicação de questionários presenciais com os resultados de desempenho medidos pelo Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). O índice Saeb é composto pelos resultados da Prova Brasil e da Avaliação Nacional da Educação Básica (Aneb). O Ideb é calculado segundo duas variáveis apuradas pelo MEC: as taxas de aprovação e evasão, levantadas pelo censo educacional, e as médias do Saeb. Ambas são divulgadas a cada dois anos pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) do MEC. O Ideb tem escala de 0 a 10, servindo como um ranking das escolas.
Já a escala Saeb é um medidor de aprendizagem dos alunos e vai de 0 a 500, para cada disciplina.
Nas instituições de regiões mais vulneráveis o impacto chega a 0,5 no Ideb. Para efeito de comparação, entre 2015 e 2017 o Ideb do país cresceu 0,3 ponto. A escala Saeb também indica avanços. O desempenho em português aumenta 5 pontos, na comparação entre a escola em que a biblioteca funciona melhor e aquela em que funciona pior. Esses 5 pontos equivalem a meio ano de aprendizado entre a 5ª e a 9ª séries. Outro dado significativo se refere à presença de um bom acervo nas bibliotecas escolares, com crescimento de 6 pontos em português e 10 pontos em matemática. Em relação ao Ideb o aumento é de 0,4 ponto.
O economista Sérgio Firpo, professor do Insper, realizou o trabalho de metodologia, amostra e análise com três colegas do instituto. Sua interpretação é que o ensino público, ao constituir bibliotecas escolares, supre aquilo que as famílias mais ricas oferecem a seus filhos em casa. “Muitos alunos vêm de contextos que não têm a cultura do livro, mas terão que se inserir em uma sociedade em que o livro é fundamental, mesmo com o avanço das tecnologias digitais”, diz Regina Zilberman, professora do Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

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