Abigraf discute a crise do mercado editorial: uma entrevista com João Scortecci

Abigraf - 8/2/2019 | 

Mais uma entidade decidiu se preparar para enfrentar os problemas que o mercado editorial enfrenta. A novidade é que desta vez,  quem arregaçou as mangas foi a Abigraf (Associação Brasileira de Indústria Gráfica). Nós conversamos com João Scortecci, diretor Editorial da entidade, sobre essa iniciativa e você pode ler aqui:

CML: A Abigraf criou um grupo de trabalho para tentar encontrar uma solução para a crise do mercado editorial, que ficou em destaque com a recuperação judicial da Saraiva e da Cultura. Como surgiu essa ideia? De que forma as gráficas podem ajudar neste processo?

JS: É verdade. Criamos um grupo de trabalho para o gerenciamento da crise, com a expertise de gráficos do segmento editorial mais o time da entidade, com o propósito de minimizar os efeitos e os impactos causados no setor pelo chamado efeito dominó. Nós, gráficos, somos parte importante da cadeira produtiva do livro e vamos “nos ajudar” ajudando com esforço coletivo, ideias e propostas para o setor.

CML: Em geral, quando se fala nas políticas para o mercado editorial, mencionam-se editoras, distribuidoras, leitores, livrarias e as gráficas parecem ficar isoladas, apesar de ser um elo da cadeia?

O isolamento “institucional” do setor gráfico junto à cadeira produtiva do livro é uma realidade. Estamos mudando isso. Confesso que um dos primeiros trabalhos do grupo editorial da Abigraf foi colocar o dedo na ferida. Listamos defeitos e fragilidades do setor. De quebra, cobramos do grupo que apontasse virtudes e qualidades dos demais agentes da cadeia do livro: escritores, profissionais do livro, editores, distribuidores e livreiros. Isso justifica nossa vontade e apetite de “nos ajudar” ajudando.

CML: Como a crise tem afetado as gráficas? Quais são as necessidades específicas das gráficas para melhor o mercado editorial?

Vejo duas crises. Uma sistêmica e outra pontual. Ambas trouxeram o caos e o desequilíbrio do negócio do livro. A primeira delas chama-se Crise Brasil, que assola o país desde 2013 e levou à recessão e ao desemprego. Em dez anos o negócio do livro encolheu 20%, segundo números da Fipe. A segunda crise, pontual e previsível, veio com os pedidos de recuperação judicial das duas maiores redes de livrarias do país: Saraiva e Cultura.

Além dos efeitos da Crise Brasil, as razões do colapso das duas redes de livrarias foram pontuais: dimensionamento equivocado do potencial de crescimento e expansão do próprio negócio; abertura de superlojas, as chamadas mega, com custos estratosféricos e insanos; má gestão; guerra de preços com descontos abusivos e, mais do que tudo, fragilidade do próprio modelo de negócio, hoje ultrapassado, conhecido como “consignação” no mercado de livros.

Em meados de 2018, vieram então os pedidos da recuperação judicial das duas redes de livrarias. Isso após recusa de um grande número de editoras para acordos extrajudiciais. Mesmo trágico, foi o melhor que poderia ter acontecido para a saúde, sobrevivência e recuperação do mercado de livros. Temia-se que a crise levasse junto redes e livrarias menores. Felizmente isso não aconteceu. Números mostram estabilização e até uma tímida recuperação para o segundo semestre de 2019. O mercado está em processo de “refundação” e nós, gráficos, vamos fazer a nossa parte.

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