GaúchaZH - Carlos André Moreira - 02/12/2018 |
Não é à toa que a raiz de “crônica” está em Krónos, palavra grega para o tempo: cronistas foram, em eras antigas, proto-historiadores que registravam as façanhas e acontecimentos notáveis de um determinado período ou reinado. Nesse sentido, é bastante apropriado o recorte escolhido pela escritora Adriana Falcão e sua filha, a professora Isabel Falcão, para a nova coletânea de textos do mestre da crônica brasileira, Luis Fernando Verissimo. Ironias do Tempo, o volume resultante desse projeto, reúne artigos publicados na imprensa por Verissimo ao longo das últimas duas décadas e funciona ora como registro bem-humorado de um tempo em acelerada transformação, ora como perturbadora evidência de que algumas coisas mudaram muito pouco no país.
– A ideia foi da editora (Companhia das Letras) – explica Verissimo – Já tinham feito o mesmo com um livro meu de textos infantojuvenis, selecionados e apresentados pela Ana Maria Machado. A Adriana e a Isabel, mãe e filha escritoras, devem ter resistido à tentação de dar uma melhorada nos textos. Que eram muitos e de várias épocas, e imagino que deram trabalho. Que agradeço.
Adriana comenta:
– Achar um fio unificador foi uma tarefa gigantesca. Eu e Isabel lemos mais de mil crônicas e ambas tivemos a mesma sensação. Tem uma coisa bonita aqui que dá uma ideia do quanto mudou de lá pra cá. E, ao mesmo tempo, tem crônicas lá de 2009 que, em 2018, estavam iguais. Parecia que cada crônica reiterava esse duplo tratamento: como o tempo pode mudar tudo e como, às vezes, pode não mudar nada. Foi assim que propusemos esse tema, Ironias do Tempo.
Adriana, 58 anos, foi convidada pela editora a assumir a seleção das crônicas. Ao longo do processo, começou a consultar Isabel, 26 anos, formada em Letras e com experiência prévia no mercado editorial. A troca de opiniões foi se tornando tão orgânica que Adriana propôs que a filha fosse agregada ao projeto, o que, de certa forma, coroou uma admiração antiga que Isabel sentia pelo trabalho de Verissimo.
– Me tornei fã dele ainda criança, devia ter uns oito anos de idade. Ele tinha um livrinho de desenhos que eu reproduzia, e minha mãe mostrou para a Mariana Verissimo, filha dele. O livro Crônicas para Ler na Escola ele mandou para mim com uma dedicatória. Achei aquilo muito doce. Ele continuou por anos com a gentileza de responder às minhas cartas – conta Isabel.
Ler Mais: GaúchaZH