Língua portuguesa ainda é vista como periférica, dizem professores

Folha de São Paulo - Michelly Chaves Teixeira - 06/05/2018 |

Embora seja falada por mais de 260 milhões de pessoas em quatro continentes, a língua portuguesa ainda é tratada como um idioma periférico. Isso ocorre inclusive na Espanha, país que divide com Portugal uma fronteira de mais de mil quilômetros.

Essa é a avaliação da maior parte dos especialistas que estiveram no Encontro de Professores de Língua Portuguesa, suas Literaturas e Culturas (Epllic), realizado em Barcelona nos últimos dias 3 e 4 —o Dia Internacional da Língua Portuguesa foi celebrado em 5 de maio. O evento reuniu dezenas de acadêmicos, especialmente da Europa, mas havia também representantes da África e do Brasil.

Prevaleceu uma avaliação geral de que um dos principais entraves para o fortalecimento da língua é o fato de suas diversas variantes se moverem de maneira quase autônoma, como se tratassem de idiomas distintos. Na maioria das universidades europeias, são oferecidos cursos de "português europeu" e "português brasileiro".

Entre os livros didáticos de português publicados no Brasil, muitos ignoram aspectos culturais de outros países lusófonos. Por outro lado, o Instituto Camões, financiado pelo governo de Portugal, costuma resistir à contratação de professores que não sigam a vertente europeia da língua.

“Por que não há distinção entre as variantes do espanhol e do inglês?", questiona Tatiana Matzenbacher, professora na Universidade de Sorbonne Paris 3. "No momento em que um professor brasileiro se vê diante de uma turma mais interessada no português europeu e vice-versa, há um grande despreparo e, sobretudo, muito medo. Atuam como se tivessem que ensinar uma língua completamente estranha e não percebem que as diferentes normas do português pertencem ao mesmo sistema.” 

Entre o português de Portugal e o do Brasil, há distinções na fonética, no vocabulário e na sintaxe. No Brasil, por exemplo, fala-se “você”, “me dá um abraço” e “estou cozinhando”; em Portugal, costuma-se dizer “tu”, “dá-me um abraço” e “estou a cozinhar”.

Para Matzenbacher, é preciso promover aulas de um “português geral”, sem distinção de suas variantes.

“Este idioma está estreitamente ligado ao campo sócio-cultural, diferentemente do inglês, em que dois terços dos falantes não são nativos e, portanto, a língua passa a ser um instrumento prático de comunicação.”

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