Guimarães Rosa é recriado em prosas, pinturas e bordados

Jornal da USP - Ivanir Ferreira - 15/05/2018 |

O sertão de Minas Gerais recria a obra de um dos maiores escritores brasileiros. Guimarães Rosa é reverenciado, experimentado e sentido em diversas formas e linguagens pelos moradores de três regiões sertanejas. É o Rosa em prosas, cantos, pinturas e bordados. Os projetos socioculturais de Cordisburgo, Morro da Garça e Andrequicé, que envolvem toda a população, revitalizam a região, valorizam a cultura  e estabelecem vínculos a partir da literatura. O escritor, que nasceu e viveu parte de sua vida em Minas, teve sua trajetória estudada em tese defendida na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP em parceria com o Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP.

Em referência a um menino, personagem extraído do conto Campo Geral – Manuelzão e Miguilim, Miguilim foi o nome dado a um grupo de contadores de histórias da terra natal de Guimarães Rosa, a cidade de Cordisburgo, localizada a 118 quilômetros de Belo Horizonte. Utilizando como forma de expressão a oralidade, meninos e meninas do sertão mineiro, com sotaque regional bastante carregado, têm a incumbência de difundir a vida e obra de Guimarães Rosa. Quem chega à cidade para visitar o acervo do Museu Casa Guimarães Rosa, “se encanta com os Miguilins”.

Na voz desses jovens, a história e os personagens se tornam vivos e os detalhes descritivos das paisagens dos contos ficcionais podem ser imaginados com formas, cores e cheiros”, relata Elizabeth Maria Ziani, pesquisadora e autora da tese. Os Miguilins se sentem orgulhosos por pertencerem ao grupo. Falam das coisas do sertão: das veredas, do vaqueiro, dos ventos verdes, dos buritis e das terras batidas. Com isso, preservam as tradições regionais e trazem identidade à cidade mineira, explica a pesquisadora.

Formado por jovens entre 10 e 17 anos, selecionados das escolas públicas da cidade, o grupo foi criado há mais de 20 anos pela prima de Guimarães Rosa, Calina Guimarães, com o objetivo de oferecer aos jovens novas perspectivas que fossem além das montanhas de Cordisburgo. Calina atingiu os resultados que desejava. Entre os ex-Miguilins, hoje são encontrados médicos, engenheiros, assistentes sociais, biólogos, professores e muitos outros seguindo a carreira acadêmica.

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