Em autobiografia, Mauricio de Sousa revela bastidores de sua carreira

O Globo - Bolívar Torres - 03/06/2017 |

Criador dos personagens mais populares do quadrinho nacional, Mauricio de Sousa é uma figura especial para as crianças que cresceram com seus gibis. O desenhista, aliás, se gaba, estimando que, desde 1960, nada menos do que quatro gerações foram “formadas” pelas histórias da Turma da Mônica. Os leitores de todas a idades conhecem sua figura e fisionomia (seja a real, seja a desenhada, que frequentemente aparece no universo da turma). Mas pouco sabem sobre os bastidores da criação de seu império, que hoje tem mais de 1 bilhão de gibis vendidos, 400 personagens e 3 mil produtos licenciados.

Primeira autobiografia do quadrinista, “Mauricio — A história que não está no gibi” chega nesta segunda às livrarias para suprir esse vazio. E já teve seus direitos vendidos para o cinema. Deve virar um documentário com previsão de estreia em 2018. Mais do que retratar a intimidade do biografado, porém, o livro joga luz sobre 60 anos de indústria de quadrinhos no Brasil, detalhando as evoluções econômicas e tecnológicas do mercado, além da extenuante vida de seus artistas, editores e empreendedores.

— Essa união de fatos da minha vida e do que aconteceu ao meu redor deu no que deu, no meu estúdio como é hoje. Todos os fatos de uma vida, da minha inclusive, se releem. Alguma coisa da minha experiência influencia o que acontece hoje e vai acontecer amanhã — diz o desenhista, que aproveitou um problema de saúde no ano passado para escrever. — Durante o tratamento, tive um tempinho, e então deu para terminar.

Escrito no espaço de um ano a partir de cerca de 60 entrevistas que o biografado concedeu ao jornalista Luis Colombini (autor de “Guga, um brasileiro”, uma biografia do tenista Gustavo Kuerten), o livro cobre os 82 anos do desenhista, com muitas revelações. Por exemplo: Mauricio nunca se formou no ginásio porque foi preso no dia da prova final. Ele tinha então 18 anos, e, para ajudar a família, havia acabado de arranjar um emprego — o seu primeiro — como datilógrafo numa empresa suspeita. Mesmo sem ter envolvimento algum nos golpes dados por seu chefe, a polícia não quis saber: invadiu o escritório e prendeu todos os funcionários. O futuro desenhista suplicou às autoridades, mas só foi solto dias depois.

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