Autoras discutem a escrita das mulheres em ciclo de debates

O Globo - Bolívar Torres - 29/04/2017 |

O ciclo de debates “Língua Afiada: escritoras tomam a palavra”, que começa na próxima terça, na Caixa Cultural Rio, coloca em pauta a força e a originalidade da escrita das mulheres. Com participação de nomes como Nélida Pinon, Carla Rodrigues, Beatriz Bracher, Marcia Tiburi, Laura Padilha e Marta de Senna, os oito debates resgatam a obra e a trajetória de autoras libertárias, perseguidas e aguerridas, que desafiaram convenções de sua época ao abordar temas atuais e polêmicos, até então reservados para os homens. O evento, que vai até o dia 12 de maio, é gratuito.

— Evitei encabeçar esse projeto com a expressão “literatura feminina” por vários motivos. Ainda hoje, existe essa associação fácil entre “feminino” e o frágil, o cor de rosa, um tipo de fala que não dá conta da força da palavra das criadoras — diz a curadora Clarisse Fukelman, professora da PUC-Rio e uma das precursoras no estudo das primeiras escritoras brasileiras. — O título “Escritoras tomam a palavra” é uma afirmativa para uma escrita ainda muito distante da imagem que se tem em relação aos projetos da mulher na nossa cultura patriarcal. Ainda há um tabu sobre a liberdade de voz da mulher.

Clarisse lembra um conselho de Clarice Lispector (cuja representação da sexualidade da mulher idosa será analisada na mesa “Armadilhas do tempo”, dia 10 de maio) a Lygia Fagundes Telles antes de uma entrevista: “Liginha, não sorria nas fotos”. Uma prova, segundo ela, da dificuldade que as mulheres têm de serem levadas a sério. Pela mesma razão, quando mulheres tratam em seus livros assuntos como sexualidade ou violência acabam sendo mal vistas.

— A mesma Clarice se viu obrigada a advertir os leitores no início de seu “A via crucis do corpo” que a coletânea tem histórias de sexo. E ainda adverte que essas histórias não ocorreram com a sua família — diz a curadora. — Nessa ironia, há um reconhecimento tácito de que não se espera de uma mulher esse tipo de assunto, de que esse tipo de histórias não são para boas moças. Passaram-se tantos anos e a questão ainda está aí.

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