JULGAMENTOS: A difícil arte de julgar arte para um concurso literário / Carmem Teresa Elias

A procura é árdua por uma equação que decifre a incógnita entre a necessidade de um texto obedecer a normas e parâmetros canônicos de um determinado gênero literário e, ao mesmo tempo, ter compromisso com a ousadia, a criatividade, inovação e originalidade. A balança é subjetiva. E sempre será, pois muito além das teorias literárias estão a emoção, a beleza, a sensibilidade, os valores estéticos, e a magia metafórica e simbólica das palavras. 

Chego a cada poema inscrito como um observador que pesquisa raridades em paisagens iguais: entre o risco de um mergulho ou a segurança das margens perante a travessia de águas, que rumo escolher?  A poesia deve ser escrita de lágrimas, suores, amores e decepções, pessoais ou sociais. A poesia é uma busca por alma! 

Algo sutil como encontrar o menor galho com o melhor traçado entre as árvores das caatingas, o grão de areia mais redondo nas praias, a magnólia mais cheirosa, ou a pena mais brilhante de uma ave. 

Observo a poesia, de repente, com meus olhos também de poeta, ao avesso do papel do julgador: ao invés de uma lagoa, observo-a como uma ilha feita de água cercada de terra por todos os lados. 

Nenhum homem é uma ilha, definiu com precisão o poeta inglês John Mayra Donnes, em sua poesia metafísica, metafórica e vibrante no século XVI. Tampouco pode o poeta ser apenas uma massa líquida coletiva e flutuante, rasa e sem contorno. 

Na paisagem da vida somos todos banhados de suor e também de pó. Entre tantos barulhos, gritos, e sussurros, preciso encontrar um poema com uma voz legítima. Onde? Não a ouço. Deve ter sumido, penso, assim como o canto dos pássaros e as luzes dos pirilampos. 

Penso na dimensão universal da poesia e no planeta Terra:  não é uma ilha no meio do céu? 

Ao mesmo tempo, por aqui no planeta azul, uma ilha quase no polo  ártico ameaça explodir e um cheiro sulfúrico sobra também no calor das águas paradas das lagoas tropicais sufocadas. Terremotos e vulcões são barulhentos, como um bom texto deveria ser: causar impacto, medo, fuga … porém quem tem medo silencia… 

Entre tantas incógnitas, ainda tenho dois caminhos a escolher de volta para o julgamento: um libertará as águas represadas; o outro carregará poeira ao topo da montanha. Escrevo um sorriso para cada caminho, para cada poesia que leio em estado de paraíso, e a cada poema entrego um vaso de flores vermelhas (de paixão e perigo), para o poeta que vem me falar.

Parabéns a cada um de vocês, premiados no sétimo concurso de poesias da editora Scortecci! Parabéns pelo maior prêmio que um autor pode ter: sua obra publicada em Livro físico! Um poema deixa de ser ilha quando vira arquipélago no livro impresso. 

Parabéns à Scortecci Editora pelo fomento à poesia e ao livro. 


Carmem Teresa Elias
Escritora
Docente Pós graduada em Letras
Pesquisadora e palestrante em Literatura Comparada e Gêneros Textuais.