Alcidéa Miguel, aqui confesso: você, sempre, me surpreende! Eu, então, cada vez mais fã. Andei marinheiro na sua história e descobri o que já sabia: você é uma artista pluriapta! Uma inquieta! Gosto disso. Para quem não a conhece, ainda: você canta, compõe música, ensina música — estudou canto, violão, regência, violino e saxofone —, escreveu textos para crianças, contos, romances e, ainda, cometeu poesias! Autora premiada, acadêmica, com catorze livros publicados e uma linda história de vida. O que há em mim é o nome do seu novo livro, publicação de 2025, pela Scortecci. Título lindo, daqueles que deixam qualquer vate com vontade de roubá-lo. Título de livro, para quem não sabe, não é coisa fácil e vez por outra costuma tirar o sono de muitos. Alcidéa, em O que há em mim, poesia que abre o livro, define-se assim: “Paixão, Fé, Luta pela igualdade, Amizade pelos animais, Laço familiar, Fraternidade, Perdão, Medo, Segurança, Simplicidade, Humanidade, Determinação, Trabalho, Amor, amor, infinitamente amor...”. Disse tudo. Ou melhor, quase tudo. Na verdade, Alcidéa pontuou no poema as iniciais — origens, nascentes e direções — da infinitude do seu coração aberto, fraterno e imenso de amor e paixão por tudo que faz. Amor pelo trabalho incansável, humanizado, fiel, íntegro e sensível. Já disse: você, sempre, surpreende! Depois, então, com magia e delicadeza, pacientemente, avança, debulhando versos, segredos, silêncios, detalhes de medo, perdão e paixão, no balanço do seu equilíbrio emocional: o que há em mim! Escreve, então: “Lá em casa tem um espelho, eu me olho por inteiro, quanta coisa em mim cabe! Sou menina prazenteira. Em mim tem a tristeza, a alegria se esparrama! Guardo até os meus segredos, e os tranco a sete chaves!”. É a menina Alcidéa, no espelho da vida, além do tempo, na imensidão do diário aberto, das palavras livres e soltas, no jardim das emoções de uma mulher madura e sensível. Adianta, lendo e relendo, ainda, seus versos, o direito de querer e desejar sempre: “Deitada na areia aquecida do sol, ouvindo há tempos a canção do vento, embalada na areia, coberta de amor, abri alas ao sol, seu direito é brilhar, e então surge a tarde assim graciosa, trazendo em sua luz amores para mim, ela vem com risos, versos e prosas, provo dos seus beijos, direito sem fim”. Alcidéa escreveu um delicioso livro de amor. Seu e do mundo. Um diário de amor. Linha por linha, palavra por palavra, de paixão, fé, igualdade, amizade, fraternidade, perdão, medo, segurança, simplicidade, humanidade, determinação, trabalho, amor, amor e infinitamente amor. No final, ou, talvez, no recomeço de sempre, tantas vezes, ou mais, a beleza do que há entre o som e o silêncio: “Cada um de nós será melhor se andarmos juntos, eu trago o que tenho e você também, temos as diferenças e vamos unir, amor e respeito podemos dar, um mundo melhor vamos construir”. E sempre.
João Scortecci