O BRASIL QUE LÊ - Mapeamento e análise de projetos de formação de leitores nos últimos 30 anos

A pesquisa O BRASIL QUE LÊ realizada pelo Instituto Interdisciplinar de Leitura e Cátedra Unesco de Leitura, PUC-Rio, pelo Instituto Itaú Cultural com supervisão da JCastilho Consultoria, teve como objetivo mapear os projetos de formação de leitores que ocorreram nos últimos 30 anos no país e entender como foram criados, se mantiveram ou porque foram encerrados. A incidência da pandemia do coronavirus aportou um dado mais, sobre os que se mantinham ativos e as condições de gerenciamento que os sustentaram. Ao final, foram selecionados 382 projetos para análise e os resultados serão mostrados ao público nos dias 8 e 9 de março de 2022 em webinários de livre acesso.

A razão da pesquisa ter sido realizada:

O movimento em torno da leitura que eclodiu no Brasil nos últimos 20 anos do século passado, analisado desde 2006 pela Cátedra Unesco de Leitura, testemunha uma atividade intensa de leituras em múltiplas linguagens e suportes em todo o território nacional. Uma consulta à sua plataforma Cartografias oferece uma história documentada da Leitura no Brasil e dados que já indicavam a dinamicidade do campo com projetos de impacto em todas as regiões.

Desde o PROLER - Programa Nacional de Incentivo à Leitura (1992) até o PNLL - Plano Nacional do Livro e Leitura (2006), são professores, bibliotecários, voluntários e autodidatas de diversas formações que, destemidamente e sem desânimo, respondem pela maioria das atividades que se estendem por espaços os mais diversos, como creches, asilos, prisões, praças, museus, hospitais, espaços não convencionais criados pelas comunidades, além de iniciativas apoiadas na internet. É importante ressaltar também a multiplicidade, a diversidade do público atendido, como: quilombolas, indígenas, mulheres presidiárias, pessoas com deficiência, em um esforço vital para que a formação de leitores e leitoras se dirigisse ao conjunto da população brasileira. Uma política de leitura está demandando mais do Estado.

Apesar do histórico e notório mal que acompanha as boas políticas públicas implantadas no Brasil, o da descontinuidade, as inspirações de movimentos como o PROLER e o PNLL estão sendo suficientes até hoje para, malgrado o atual poder federal em exercício, alguns Estados e Municípios seguirem construindo Planos Estaduais e Planos Municipais de Livro e Leitura, assim como a sociedade civil se desdobra em manter e seguir adiante com suas iniciativas formadoras ao mesmo tempo que  reivindica do poder executivo federal providências para a retomada de políticas públicas de incentivo à leitura.  Um exemplo desta determinação de construir e reivindicar pode ser encontrado na Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias - RNBC, potente organização de formadores de leitores, bibliotecas nascidas nas comunidades periféricas das metrópoles e em rincões diversos do país, que exercem grande relevância nas comunidades em que se instalaram e que se pautam por construção de meios para formar leitores e pela luta pelo direito à leitura e por políticas públicas locais, regionais e nacional em torno dos eixos do PNLL.

A realidade, neste princípio de 2022, no último ano do atual mandatário que assumiu o governo federal em 2019, constatamos um profundo retrocesso das políticas públicas federais na educação e na cultura, em particular nos programas de livro, leitura, literatura e bibliotecas, caracterizando um desastroso e retrógrado período.

O resultado, que se apresenta nos relatórios da pesquisa, confirma estas assertivas preliminares nas iniciativas que foram alcançadas e que vieram compor o corpus da pesquisa: a duras penas, abandonado a empreendimentos da sociedade civil, sem recursos financeiros e sem tecnologia que garanta sua extensão, o Brasil lê. Esta pesquisa vai ao encontro dessa constatação e procura conhecer e demonstrar os agentes e projetos que fazem esse Brasil que não aparece.

Uma pesquisa com muitas indagações para o país:

Uma pergunta não cala: a quem interessa um povo despreparado para criar riquezas, para alavancar qualidade de vida e produzir saberes que seriam capazes de melhorar o PIB, o IDH, o PISA, o IDEB, sem destituir do devido os que já foram contemplados? Tecnicamente sólido, o conjunto de relatórios é contundente para apontar que há caminhos abertos no seio da sociedade para estender a malha da leitura como base para o país assentar seus projetos de ordem socioeconômica, além da cultural e educacional, uma vez que eles dependem de sujeitos bem formados, vale dizer, leitores, capazes de atuar em seu meio não apenas como exploradores de oportunidades, mas construtores da nação.

Apesar de ficar atestado que barreiras financeiras e de formação de recursos humanos são um obstáculo ao aperfeiçoamento de sociedades leitoras – e sabemos que elas não são ignoradas entre políticos e gestores do desenvolvimento, tornando-se projeto deliberado de exclusão de grande parte da população – as análises demonstram que ler, além de um direito do cidadão e um dever do Estado promovê-la, é de importância estratégica para a participação social dos sujeitos nos destinos do país: o que se entende por desenvolvimento não corresponde apenas às benesses da industrialização e da informática, mas supõe a capacidade de tomada de decisões e de criação de alternativas, com reciprocidades, entre os membros de uma comunidade, movidos a priori pela ativação de suas potencialidades pessoais que a educação habilita e a cultura fortalece, quando não reprimem.

Uma sociedade leitora leria que o depredamento de bens comuns é um desserviço; que o bom serviço público precisa ser valorizado; que os direitos têm canais para serem assegurados; que o trabalho não é servidão; que o ambiente de vida e convívio precisa ser cuidado; que as relações humanas constroem o bem-estar coletivo etc.

A capacidade leitora dos brasileiros, não sendo panaceia para todos os males, obviamente, pode dar a cada sujeito a dimensão de seu papel social na família e no trabalho, na cidade e no campo, fazendo-o protagonista dos espaços e das situações em que está atuando, como colaborador do pensar e do agir para qualificar a vida pessoal e coletiva. Mas esta transformação emancipadora, como a via Paulo Freire, depende do compromisso dos poderes instituídos em realizar as condições de promulgação deste direito e dever de ser leitor do mundo e da letra. O atraso brasileiro no quadro das nações desenvolvidas não se justifica com a riqueza natural disponível, com os recursos materiais e financeiros que resistem à corrupção; ele reside na falta de qualificação de seus cidadãos, usurpados de seu direito a se inserir no movimento social que gera produtividade pela criatividade e envolvimento na vida pública.  A existência de política pública é uma condição necessária e imprescindível para realizar essas condições para todos os nossos concidadãos.

A diferença entre nações ricas e pobres passa pela educação e pela cultura, sendo a leitura sua mola mestra para qualquer área do conhecimento. Ela determina, indubitavelmente, a possibilidade de compreendermos e exigirmos todos os direitos humanos, sendo ainda elemento necessário para o desenvolvimento sustentável de uma nação, com a também necessária sustentabilidade e harmonia com a natureza. 

Os movimentos reais da sociedade civil que formam leitores já consolidaram essa possibilidade de uma pátria de leitores e o Brasil conta com respaldo legal, por intermédio da Política Nacional de Leitura e Escrita - PNLE - Lei 13.696/2018 para implantar uma política de Estado e dar este importante passo. 

Os resultados dessa pesquisa apontam para essas possibilidades, a de sermos uma nação muito melhor em todos os aspectos que a humanidade possa ser. Esses mesmos resultados demonstram também que o Brasil que Lê sabe o que fazer. A pergunta é quando superaremos a barreira política em suas dimensões econômica, moral e de direitos que nos impede de realizar essa tarefa histórica e civilizatória.

O BRASIL QUE LÊ - Mapeamento e análise de projetos de formação de leitores nos últimos 30 anos.

O que é a pesquisa:

Eliana Yunes e José Castilho

(supervisores da pesquisa O Brasil que Lê)

JCastilho Consultoria
eliana.yunes@gmail.com
jose.castilho@jcastilhoconsultoria.com.br
(11) 99452-7272

www.jcastilhoconsultoria.com.br

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