ALMANAQUE “LUNÁRIO PERPÉTUO”, DE JERÔNIMO CORTÉS E JORGE SECKLER - O ALEMÃO - DA TYPOGRAPHIA LIVRO VERDE / JOÃO SCORTECCI

Coleciono de tudo! Sou um acumulador de memórias. Já colecionei “almanaques” e busquei, desesperadamente, ter na coleção um exemplar de “Lunário Perpétuo”, o mais famoso e cobiçado almanaque já publicado no mundo. Não consegui, Infelizmente. A vontade passou e o desejo ficou. O que isso significa? Não desisti, ainda! “Lunário Perpétuo”, ilustrado com xilogravuras e composto pelo matemático, astrônomo, naturalista e compilador espanhol, Jerônimo Cortés (1560-1610), foi publicado em 1594, em Valência - cidade portuária na costa sudeste da Espanha -, e reeditado inúmeras vezes ao longo de séculos, com variações em seu título e conteúdo.
Foi publicado em língua portuguesa pela primeira vez em 1703, com tradução de Antônio da Silva de Brito e se tornou muito popular no Brasil, principalmente na região Nordeste. Segundo o historiador, sociólogo, folclorista e jornalista brasileiro, Luís da Câmara Cascudo (1898-1986), que mantinha um exemplar de “Lunário Perpétuo” na sua mesa de cabeceira, foi o livro mais lido no Nordeste brasileiro durante dois séculos.
O almanaque oferecia conselhos e orientações sobre os mais variados aspectos da vida, incluindo tabelas das fases da Lua, dos eclipses do Sol e das festas móveis, previsões do tempo, horóscopos, elementos de Direito, navegação, teologia, saúde, agricultura, maneiras de interpretar o comportamento dos animais, biografias de santos e papas e outros dados de interesse geral.
O alemão Jorge Seckler (Georg Johann Seckler, 1840-1909), com 15 anos de idade, no ano de 1855, transferiu-se para o Brasil, tornando-se aprendiz de gráfico na Typographia Allemã, de Henrique Schroeder. Posteriormente, tornou-se proprietário da Sociedade Artística Beneficente - na Rua São Bento, 58 - uma das mais importantes oficinas tipográficas paulistanas, responsável pela mais longeva série de almanaques comerciais do estado de São Paulo. Em 1862, adquiriu uma oficina de encadernação - que pertencia a Hermann Knoesel - e, em 1865, iniciou o serviço de impressão com tipos móveis. Entre 1872 e 1878, fundou a Typographia Livro Verde – na Rua Direita, 14/15 - estabelecimento que, além de serviços de impressão, oferecia livros, material de escritório, encadernação e pautação de papel para escrita. É desse período a “febre” dos almanaques, não só no Brasil, mas no mundo todo. Em 1891, Jorge Seckler, adoentado, afastou-se do serviço de gráfico, e a empresa mudou de proprietário, passando a se chamar “Companhia Industrial de S. Paulo”. Nos dois anos seguintes, o “Almanach de Seckler”, como era conhecido, publicado pela Companhia Industrial de S. Paulo, carregou impressa na sua capa a marca: “successora de Jorge Seckler & Companhia”. Jorge Seckler faleceu em 23 de fevereiro de 1909, aos 69 anos de idade.

Foto: Almanaque “Lunário Perpétuo” - Edição de Lisboa, ano 1768 – impresso nas Oficinas Francisco Borges de Sousa.