A poesia de Lindolf Bell a céu aberto, em Timbó, SC, é uma grande conquista. Bell terá esse ano, nas Telelistas, sua Casa, inaugurada em 2003, enquantio patrimônio, não apenas da cidade natal, mas da Literatura nacional, mantida pela Fundação Lindolf Bell.
O carinho com que a filha mantém a obra de seu pai, a eterniza. Com a esposa, Elke Hering, artista plástica, o pássaro (ou o poeta-pássaro), inovou ao apresentar Objetos-Poesia, obra de ambos.
Na sua vida de sessenta anos, prolífero, 1938/1998, não só escreveu com a força da palavra poética em si, mas também com a inovadora palavra objeto, em parceria com sua esposa, artista plástica. A filha de ambos, Rafaela, à frente do Museu de arte de Blumenau, é agente do eterno, curadora do chamado centro de memória Lindolf Bell, na cidade natal do bardo, Timbó.
Os Póstumos e as Profecias foi o livro de estréia de bell em 1962. O fato de cursar Dramaturgia, na Escola de Arte Dramática, em São Paulo/SP, de alguma forma marca seus versosk onde a pungência das palavras, atinge a psicodramaticidade necessária á alma dele próprio e à época por que passava o país.
Em 1963 participou na Expressão de Novos Poetas, com poemas-murais, na biblioteca paulistana Mário de Andrade, tomou parte do "Expressão de Novos Poetas", com poemas-murais. Nessa época, editou Os ciclos.
Em 1964, ano em que o Golpe Militar aconteceu no Brasil, foi significativo integrante do Movimento da Catequese Poética. No ano seguinte, Juan Seringo usou roteiro do poeta para seu filme experimental intitulado "A Deriva".
Os poetas da época eram idealistas e tinham na palararma, sua força de conmbate á pretensa ditadura. Nunca se criou tanto, e o poeta declamou poemas no Show Contra, no Teatro Ruth Escobar em São Paulo SP. Corria o ano de 1968. Depois, viajau para os Estados Unidos (ainda em 68) e fez parte do grupo brasileiro no International Writing Program (Universidade de Iowa). É em Iowa que são paridos em conjunto com Elke Hering Bill os "poema-objetos" com Elke Hering Bill Estes tomam forma e imagem tridimensional, numa série de objetos poéticos (com a contra-partida poemas-objetos). Plenificados de criatividade, os dois, bardo e artista, completam-se.
Quandoretorna ao Brasil, Bell mora em Blumenau/SC. Na bela cidade, leciona História da Arte na Fundação Universidade Regional.
A I Pré-Bienal de São Paul, recebe sua participação em 1970, com esses concretos poemas-objetos, que chamam a atenção como expressao artísco-literária.
Seu livro "Codigo das Águas", em 1984 recebe o Prêmio de Poesia, da Associação Paulista de Críticos de Arte. Outros livros: As Annamárias (1971), As Vivências Elementares (1984) e Iconographia (1993).
Mais jovem, o poeta demonstrou em sua lavra sério engajamento político-social, com a mesma representatividade de sua participação no cenário literário do Brasil de então. Diz-se dele que exerceu uma catequese poética, verdadeiro missionário de sua crença no fazer poético. No entanto, depois de 1968, sua verve torna-se mais pessoal, com rememórias e filosofia de vida claramente expostas nos versos.
Há pouco tempo, em agosto, buscando mais fotos do poeta sobre quem estou escrevendo, encontrei, na página de Rubens Jardim (*), interessante retrato de época, em preto branco, com poetas em torno da poesia, quais falenas em volta da luz e assim o autor, Rubens Jardim, se espressa:
"Saudades infinitas de um ser íntegro e pequeno, anônimo -- mas não anódino -- que se chamava Rubens...e se colocava diante, adiante e atrás de tudo. Re-ligare esse moleque. Tornar a ligar. O umbilical e o universal. O sagrado e o profano. Timbó e Blumenau. Timbó e São Paulo. Timbó e o Brasil. Timbó e o mundo".
Uma de suas poesias, escritas para Manuel Bandeira e que apliquei a ele próprio (quando soube de sua passagem para outra dimensão, pois fiquei recolhida, a prestar uma homenagem de quem sempre admirou sua verve, sem jamais tê-lo visto, desde a juventude) afirma:
(...) "Quando um poeta morre
os outros fazem silêncio
ainda que ninguém tome conhecimento" (...)
Finalizo essa minha homenagem de hoje com o poema de Bell, citado acima, dedicado a Bandeira:
Manuel Bandeira do Brasil
Lindolf Bell
Todos fizeram seus versos para o poeta.
Também vou fazer os meus.
Quando um poeta morre
os outros fazem silêncio
ainda que ninguém tome conhecimento.
Onde estiver,
a estrela da tarde
estará no horizonte da palavra,
atrás do teatro Carlos Gomes
de meus pensamentos vãos,
e me lembrarei de ti, Manuel
Bandeira da saudade.
Onde estiver,
estarei na sacada do mundo
esperando a tua bênção
no vento noturno,
na tua galeria intemporal
de poeta que fez versos
como quem ama.
Onde estiver,
sei que pairas
entre o coração que sabe
e o ruído dos automóveis
da rua quinze de novembro e a chuva
de minha cidade temporal,
que visitas sem que ninguém saiba
e abençoas sem resposta esperada.
Todos fizeram seus versos para o poeta.
E o tempo custou a chegar
para meus versos,
afundados que jaziam no rio Itajaí,
antes da estrela da manhã
ainda que tardia,
onde os esqueci.
quando um poeta morre
os outros morrem também.
Mas nasce um canto
que fica
e fica um verso que nasce,
poeta Manuel, Leão leal.
Mas um canto de morte inteira,
Mas um verso da vida inteira.
E eu queria te dizer,
Manuel Bandeira do Brasil
e verde vale de azul anil,
que achei uma palavra fora do dicionário,
uma palavra estrelada de nome:
MANUELANCOLIA.
Clevane Pessoa