Mapeamento O Brasil que Lê indica que 79% dos projetos da sociedade brasileira para o incentivo à leitura no Brasil estão na rede

Segundo o levantamento em curso – uma realização do Itaú Cultural e a PUC-RJ, com consultoria da JC Castilho –, projetos elaborados pela rede social são ampla maioria entre os inscritos na plataforma, que aceita todos os formatos dessas inciativas no setor. O objetivo do estudo é mapear e refletir sobre como essas ações promovem suas sustentabilidades, o perfil do mediador de leitura e as tecnologias utilizadas (ou não), entre outros aspectos, de modo a incrementar o estímulo à leitura em todos os estados do país. O site criado por essas instituições para receber as inscrições permanece aberto para novas inscrições no questionário do mapeamento.
Entre as 240 inscrições de projetos recebidas de novembro passado até agora, a pesquisa O Brasil que Lê já apresenta um número que surpreende: 79% das iniciativas são desenvolvidas pelo Instagram. Ainda de acordo com os registros aplicados até este momento, 52% dos projetos são custeados com recursos próprios – do responsável pelo projeto ou da comunidade onde está inserido –, como muitas das bibliotecas comunitárias. O levantamento está sendo realizado em parceria do Itaú Cultural e a PUC-Rio, com consultoria da JC Castilho, para mapear projetos promotores da leitura no Brasil.
Disponível em http://obrasilquele.catedra.puc-rio.br//, a plataforma O Brasil que Lê está aberta para todos os brasileiros que inscreverem os seus projetos de leitura nos mais diversos formatos – virtuais ou não – de promoção e incentivo à leitura, estando eles em andamento ou já concluídos. O objetivo é mapear e refletir sobre aspectos sociais, educacionais, econômicos e tecnológicos dessas iniciativas da sociedade brasileira em favor da leitura e do conhecimento. 

Pelas redes

Só para mencionar alguns dos inscritos em formato digital, encontra-se Toda Hora Tem História, da escritora e narradora de história paulista Penélope Martins, iniciado há 10 anos em forma de blog e que atualmente chega ao público no formato podcast. Outro exemplo é Lendo Literatura Brasileira, do pedagogo mineiro Álvaro Domingues, o qual manifesta afeto à leitura por meio de postagens nas redes sociais e, desde 2018, realiza um grupo de literatura coletiva em videochamadas.
Penélope conta que a iniciativa de criar o blog @todahoratemhistoria partiu da ideia de comunicar suas experiências com a leitura, ampliando o debate para o desenvolvimento do leitor. “Durante sete anos, essas colunas escritas no blog foram compartilhadas por um jornal do ABC paulista, cujo público era predominantemente de metalúrgicos – o que enriqueceu o princípio condutor da iniciativa”, diz.
Como forma de atingir novos públicos interessados em leitura, o projeto ganhou, em 2021, a forma de podcast e conta com um novo episódio todas as terças-feiras. “Eu tento, como autora, mediadora e, principalmente, como leitora, mostrar que os livros estão aí para nós e existem a partir de nós – por isso, eles são nossos possíveis espelhos”, completa.
Em Minas Gerais, Domingues, criador de Lendo Literatura Brasileira (@alvarobooks), se decidiu por este caminho a partir da interação que fazia nas páginas do Instagram e Facebook sobre seu amor pela leitura. O retorno por parte dos seguidores foi positivo a ponto de ele criar um grupo de leitura coletiva, onde disponibiliza textos de apoio, cronograma, curadoria e mediação para os participantes.
“Em 2016, passei a compartilhar esse afeto pela leitura nas redes sociais. Com o passar dos anos, essa troca foi aumentando até que, em 2018, comecei o grupo de leitura coletiva. As reuniões acontecem com frequência, por meio de videochamadas, para humanizar ainda mais nossas interações”.
Apesar de ser uma iniciativa que acontece inteiramente em ambiente virtual, esse grupo de leitura coletiva tem o objetivo de se aproximar ainda mais do público. “Com o apoio efetivo do projeto no Catarse, além de parcerias com organizações públicas e privadas, o projeto pode passar para o presencial, quando for possível do estado de isolamento social”, completa.

Fora do digital

O Brasil que lê parte do princípio de que as ações de incentivo à leitura se multiplicam, em formatos diversos, de forma anônima, em escolas, bibliotecas, associações de moradores, praças, igrejas e espaços variados. Elas incentivam a formação e mediação da leitura, fomentando a sustentabilidade cultural e crítica dos cidadãos. Além da maioria dos projetos serem realizados via redes, o estudo também registra projetos desenvolvidos em meio físico. Entre eles, Biblioteca de Muro, idealizado pelo gestor cultural Jailson Cordeiro, de Santa Catarina.
O projeto de Cordeiro foi posto em prática em abril de 2018, surgido da inquietação de popularizar a literatura e tornar a leitura um hábito. “Lembrei das hortas comunitárias feitas em calçadas e disso veio a ideia”, conta ele. Assim, ele decidiu criar uma biblioteca na calçada – muro, no caso dele –, construída, em uma primeira versão, com materiais de que dispunha em sua casa. “O funcionamento é simples: os livros ficam à disposição, é só pegar, ler e devolver quando terminar”, explica.
Outro exemplo é a Casa de Leitura Soraya Pamplona, idealizado pela designer gráfica especializada em produção editorial que dá nome ao projeto em julho de 2017, no Rio de Janeiro. “Era um sonho antigo que se concretizou depois de eu ter tido contato com a iniciativa de um professor e perceber que era possível transformar a rua, o bairro, a cidade a partir da leitura, inserindo-a no dia a dia das pessoas”, lembra Soraya. “Quando jovem universitária, eu não podia comprar livros, já que só havia dinheiro para a comida. Ninguém merece ter de escolher entre livros e alimentos. Por saber que essa crueldade continua a ocorrer na periferia, decidi fazer do meu lar um espaço onde todos podem encontrar opções de leitura em um ambiente de acolhimento”, complementa ela. 

Cursos para mapeados

Quem participar do mapeamento vai ter acessos a três ações de O Brasil que Lê: dois cursos online sendo um de gestão de projetos de leitura e outro sobre mediação de leitura – e as possibilidades de diálogo com as diferentes de pesquisas sobre leitura no Brasil. Este mapeamento é proposto com a intenção de impactar positiva e efetivamente aqueles que estão na linha de frente dos projetos, como bibliotecas comunitárias, redes de leitores na internet ou presenciais, projetos desenvolvidos em presídios, hospitais, em meio rural, entre outros. Mesmo ainda parciais, os seus resultados já estão sendo utilizados como fonte para a realização dos dois cursos a serem oferecidos aos participantes.
Uma vez inscritos e analisados, os projetos receberão um certificado com o Selo de Participação no mapeamento. Pesquisadores visitarão projetos cujas ações evidenciam um diferencial em gestão, resultados, práticas, mediação e uso da tecnologia. Após a divulgação dos resultados, todos eles passarão a fazer parte da plataforma Cartografias da Leitura, possibilitando conexões e trocas de experiências.
A importância desta pesquisa está em dar visibilidade a todos os que promovem a leitura, ampliando o acesso à informação qualificada e, sobretudo, abrindo horizontes para a multiplicação e sustentabilidade de ações que estão contribuindo para a construção de um país leitor.

Índice de leitores no Brasil

O mapeamento do O Brasil que Lê se soma a iniciativas como a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, o maior e mais completo estudo sobre os hábitos de leitura no país, cuja quinta edição foi realizada em conjunto pelo Instituto Pró-Livro e o Itaú Cultural e os resultados foram lançados em setembro passado. 

O levantamento, que constatou uma diminuição de cerca de 4,6 milhões de leitores no Brasil, entre 2015 e 2019, aponta o Nordeste como a região onde mais se lê no país. Em João Pessoa, na Paraíba, 64% da população é leitora. Por outro lado, o número de adeptos à leitura em Maceió, Alagoas, cai para 37% da população. No Centro-Oeste, a capital do Mato Grosso, Cuiabá, o índice é de 26%. Na região Norte do país, Manaus, Amazônia, 62% dos habitantes são leitores e em Porto Velho, Rondônia, a leitura atrai 51% da população. 

A região Sul O Sul abocanha uma média de 56% de leitores nas capitais dos estados – 52% Em Porto Alegre, Rio Grande do Sul; 56% em Florianópolis, Santa Catarina e 63% em Curitiba, Paraná. No Sudeste, a mesma média é de 54% – 60% em São Paulo, 47% no Rio de Janeiro, 55% em Vitória, Espírito Santo, e 53% em Belo Horizonte, Minas Gerais. 

Para chegar a estes resultados, os pesquisadores de Retratos da Leitura no Brasil entrevistaram 8.075 pessoas em 208 municípios, entre outubro de 2019 e janeiro de 2020, sendo 5.874 deles nas capitais dos 26 estados brasileiros e do Distrito Federal. A pesquisa é realizada de quatro em quatro nos.  Foram considerados leitores aqueles que leram pelo menos um livro inteiro, ou em partes, nos três meses que antecederam a pesquisa. A nível nacional, os dados deste levantamento revelam a existência de 52% de leitores e 48% de não-leitores entre os entrevistados. O número de 2019 caiu em comparação com a pesquisa anterior, realizada em 2015. Na época, foram registrados 56% leitores e 44% não leitores.

SERVIÇO

O Brasil que Lê
http://obrasilquele.catedra.puc-rio.br/.
Retratos da Leitura – 5ª edição

https://www.prolivro.org.br/5a-edicao-de-retratos-da-leitura-no-brasil-2/a-pesquisa-5a-edicao/


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