Mourão – é assim que ele gosta de ser chamado – sentou-se inteiro na velha cadeira de balanço e nela, com a cumplicidade do “seu” tempo, escreveu os versos de Mosaico do tempo.
Ainda sentado na cadeira de balanço remoeu-se – corpo e memória – na prática do exercício ímpar pela vida.
Foi na experiência de “longas caminhadas” que teceu o mapa de navegante que compõe as lembranças deste pequeno livro de reminiscências.
Impossível determinar o quanto cada pedaço de vidro do seu mosaico ilustra e compõe o desenho poético.
Caleidoscópio? Ou a força das luzes – do lado de lá, do lado de cá – e tantas outras sombras da própria memória que se movimentam no arco das flechas.
Há quem diga que “da infância” o melhor é a grandeza de tudo.
Vejo distâncias – fragmentos de tempo algum – e percebo – no conjunto da sua obra – “proximidades” nas cercanias do coração valente.
Isso explica o quanto o laser do tempo é veloz em pontuar o seu alvo.
“A vida nos entrega e nos faz absolutamente iguais.”
No mosaico – agora também espelho – sol e reflexos, luz e imagens, bipolaridade que explica presente, passado e futuro.
Conjunto de suas frações, conjunto de sua melhor verdade.
Foi ainda, no período contínuo no qual os eventos se sucedem, que li e reli o seu livro.
Belíssimo!
Nós poetas somos metidos em escolher do nada o que nos chama, o que nos faz gostar e pronto.
Em “Presságio” encontrei o dito que nos fala parecendo até feito para os nossos ouvidos.
“Será que precisa pensar tão diferente? E dói!”
Não há despedida, não há inocentes no melhor das histórias sobre discos voadores, homem pisando na lua, Beatles e canibais do amor.
Em “Varal da vida” tudo exposto: emoções ao vento, intimidades reveladas, peças enfileiradas... Tudo espalhado aos que passam.
Mourão – foi Filho, Pai e Avô – na guarda das boas e derradeiras memórias.
Isso explica o quanto precisamos pisar no mosaico do tempo para que a vida continue acontecendo em nós e nos que seguem adiante.
Sempre alerta!
João Scortecci