Suspense literário

Valor Econômico - Jacilio Saraiva - 16/11/2018 |

A tempestade perfeita. É como editores e especialistas classificam a crise que atravessa o mercado de livros. Uma reunião de fatores, que inclui dificuldades financeiras da Saraiva e da Cultura, principais redes de livrarias do país que representam até 40% do faturamento das editoras; mais a recessão econômica, que afugenta compradores das lojas, ajuda a espalhar nuvens pesadas sobre o segmento. "Corremos o risco de esse cenário não se reverter até o Natal", diz Marcos da Veiga Pereira, presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel) e sócio da Sextante. Para enfrentar o tempo ruim, editoras montam novas estratégias, como a criação de sites para venda direta, clubes de livros e uma maior aproximação com lojas de menor porte.

No primeiro semestre, o mercado de livros cresceu 9,9% em faturamento e 5,2% em volume de vendas, em relação ao mesmo período de 2017, mas pouca gente comemorou. Integrantes do setor dizem que o crescimento foi considerado "discreto" porque o patamar de vendas não era alto e dificilmente iria desmoronar.

Entre janeiro e julho, o setor arrecadou R$ 1 bilhão ante R$ 977 milhões na primeira metade do ano passado. Já a quantidade de títulos vendidos saltou de 22,9 milhões para 24,1 milhões de unidades, no mesmo período, de acordo com o Painel das Vendas de Livros, estudo feito pela Nielsen e pelo Snel. A Nielsen reportou a venda de 678,3 milhões de exemplares, em 2017, nos EUA. "Considerando que o nosso mercado amarga quedas contínuas desde 2013, o movimento positivo no início de 2018 deve ser considerado mais como recuperação do que um crescimento propriamente dito", diz Ismael Borges, que coordena a Nielsen Bookscan Brasil.

Segundo ele, o que mais chama atenção nas planilhas de 2017 e 2018 é o fato de o setor ter crescido sem contar com nenhum fenômeno editorial, como foram os livros de colorir, em 2015. "Agora, tivemos crescimento linear e orgânico." Para o segundo semestre, as perspectivas são mais desafiadoras. Impactos na distribuição com a greve dos caminhoneiros, a Copa do Mundo e a recessão fazem companhia ao período das eleições e à crise do varejo. "Mesmo assim, a expectativa é que o ano termine no positivo."

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