No embate de ideias, há quem prefira queimar livros a discuti-los

Jornal da USP - 17/10/2018|

Recentemente, o Brasil viu estampar em seus noticiários dois novos casos de temor e ódio aos livros. No início de outubro, um colégio particular do Rio de Janeiro suspendeu a leitura de Meninos sem Pátria, romance de Luiz Puntel escrito em 1981, destinado aos estudantes do sexto ano. O motivo foi a revolta de pais de alunos, que acusavam a obra de “doutrinação comunista”. Na mesma semana, publicações sobre direitos humanos apareceram destruídas na Biblioteca Central da Universidade de Brasília (UnB). Páginas abordando a luta por direitos e o fim da ditadura militar foram encontradas rasgadas por servidores da instituição.

“Os pais precisam participar da vida da escola. Não existe escola que funcione bem sem tal participação. Mas a participação dos pais não diz respeito ao projeto pedagógico da escola”, analisa o professor da Faculdade de Educação (FE) da USP Nílson José Machado. “No caso das escolas privadas”, continua, “se os pais não concordam com tal projeto, retiram o aluno e matriculam em outra escola, com mais sintonia em termos de projetos e, sobretudo, em termos de valores. No caso da escola pública, a participação em associação de pais pode levar até o limite de solicitação de esclarecimentos à direção, mas não cabe aos pais escolher ou indicar livros, por exemplo, nem tentar influenciar a perspectiva metodológica.”

“Canais respeitosos de comunicação podem e devem ser abertos, mas o profissionalismo dos professores e da equipe de direção e coordenação pedagógica precisa preponderar”, pontua. “A divisão de responsabilidades entre a família e a escola pressupõe diálogo franco, mas há espaços que são próprios da família, como alguns entroncamentos referentes a valores, enquanto outros são de responsabilidade precípua da escola. O terreno pedagógico é um desses espaços em que a escola deve assumir o comando.”

Ler Mais: Jornal da USP