G1 - 18/09/2018 |
A literatura de um país, obviamente, é a soma do que produzem autores e autoras. Num céu estrelado, há estrelas que brilham mais e há estrelas que brilham menos. O fascinante, nesse céu estrelado, é a soma de todas as estrelas. Algo parecido acontece com a literatura.
Seria absurdo desejar que todos os nossos escritores fossem, por exemplo, Machado de Assis. Perderia a graça. A literatura, como toda manifestação cultural, sobrevive pela diversidade. Que bom poder ler Machado Assis, Marcos Rey e Clarice Lispector!
O valor da diversidade é óbvio. Grandes e pequenos temperam uma cultura. Mas isso não pode impedir outras constatações. Uma delas é que cada país tem o seu gigante literário. O gigante literário é motivo de orgulho; é mencionado mesmo por aqueles que não leram suas páginas; é patrimônio inalienável de um território. É o caso de Dante Alighieri na Itália, de Shakespeare na Inglaterra, de Goethe na Alemanha, de Homero na Grécia, de Tolstói na Rússia, de Machado de Assis no Brasil e de Camões em Portugal. Falemos um pouco a respeito deste último. Falar a respeito dele é entender o que constitui um gigante literário.
É interessante entender o processo. Milhares de teses acadêmicas tentaram dar conta dos motivos de um escritor ser considerado um gigante. Casamento perfeito entre forma e conteúdo? Claro. Impossível ignorar tal critério. Mas a coisa vai além. Uma boa síntese: o gigante literário é enciclopédico. Parece que nada escapa de seu olhar. Todas as variações do comportamento humano estão em suas páginas: a alegria e a tristeza, a saúde e a doença, a guerra e a paz, a vida e a morte. Nada disso é estranho ao gigante literário.
Pensemos em Camões. Conhece-se Camões principalmente pelo épico “Os Lusíadas”. Não é injusto. O poema gigante camoniano captura a alma portuguesa. História e mito dão as mãos numa união perfeita. Se parasse no épico, Camões já estaria na galeria dos grandes escritores de todos os tempos. Mas foi além e escreveu, entre outros gêneros, vários poemas breves que mostram que Camões foi maratonista ao escrever “Os Lusíadas” e foi corredor dos cem metros rasos ao escrever os poemas curtos, principalmente os sonetos.
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