O autor e a crise do mercado editorial

Época - Tiago Ferro - 13/09/2018|

O debate a respeito da atual, e grave, crise do mercado editorial brasileiro ganhou espaço em revistas semanais e na TV aberta, para além dos círculos especializados e interessados diretamente no assunto-problema: atraso nos pagamentos das livrarias, venda online ou lojas físicas, pequenas redes ou mega stores, impresso ou digital, a importância da compra do Estado, o valor de capa justo. O debate chegou ao Programa do Bial, na TV Globo.

Em nenhum momento, ou apenas de raspão, foi mencionada a situação do autor no interior da crise. Como todos sabem é possível contar nos dedos das mãos (de uma mão?) aqueles que podem viver exclusivamente da venda do que escrevem. Festivais literários e ocupações paralelas dentro do universo do livro – colunas em jornais, traduções, bolsas de pesquisa na área de crítica literária – são as formas possíveis de manter "escritores de domingo". Isso antes, durante e certamente depois da atual crise.

Via de regra, autores ficam com 10% do valor de capa sobre exemplares vendidos de suas obras. Sim, uma fatia muito pequena para a peça fundamental dessa história. Mas mesmo supondo que seja possível dobrar essa porcentagem, com tiragens médias de 3 mil exemplares, dificilmente a situação financeira para uma vida confortável dedicada aos textos estaria resolvida. Bem, se o mercado não funciona para o autor e funciona para os demais envolvidos – editoras e lojas –, há algo errado. Mas o fato é que após o fechamento da torneira do dinheiro público, as editoras também se deram mal. É fato conhecido que grupos editoriais estrangeiros entram neste país buscando as tais compras governamentais e não exatamente leitores... O que nos leva a desconfiar que a ideia de "mercado editorial" talvez seja uma fantasia, uma ficção.

Um país que não produz livros e leitores brutaliza os seus cidadãos e jamais dará um salto de qualidade em direção a um modelo de sociedade mais justa e integrada. Mesmo sendo um caminho imperfeito, me parece que o Estado deve sim interferir e financiar o "mercado editorial". É uma área estratégica como tantas outras que dependem de verbas públicas. A literatura é tão central quanto boa parte da pesquisa científica para a formação de uma nação.


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