Publishnews - Volnei Canônica - 11/06/2018 |
A 60º edição do Prêmio Jabuti, lançada em 15 de maio apresentou um novo formato do prêmio. Nessa reformulação, necessária, e isso precisa ser admitido, o número de categorias diminuiu de 29 para 18, e ainda foram suprimidos, em todas as categorias, o segundo e o terceiro lugar. Todos do mercado editorial, apesar de adorarem receber sua estatueta e figurar nas redes sociais segurando o Jabuti, achavam as cerimônias longas e cansativas. O que deveria ser uma confraternização entre o mercado editorial, acabava por se tornar um chá de cadeira, em cerimônias que se arrastavam por mais de 3 horas.
O Jabuti ficou mais magro, mais slim, mas diferentes áreas do mercado reclamaram das mudanças. Algumas não se sentiram contempladas. Outras viram nisso uma perda e por aí vai. Mas a área mais atingida foi a da Literatura Infantil e Juvenil. Justamente a área responsável por formar novos leitores deste segmento essencial em si, e, além disso, segmento dos futuros consumidores da chamada “literatura adulta”. A Literatura Infantil e Juvenil, em edições anteriores, figurava em duas categorias separadas e ainda havia uma categoria específica para avaliar a ilustração, agora deslocada para “o caráter técnico” dentro do Eixo Livro.
Além da diminuição das categorias, a nova edição resolveu agrupar as 18 categorias em 4 eixos: Literatura, Ensaios, Livro e Inovação. Com todas essas mudanças, para facilitar o entendimento na hora da inscrição, a Câmara Brasileira do Livro (CBL) colocou os critérios de avaliação no corpo do regulamento do prêmio, anteriormente era sempre um anexo. Isso me faz acreditar que há muito tempo as pessoas não liam o regulamento. As mudanças deixaram mais evidentes os critérios de avaliação e os próprios conceitos do regulamento, muito obsoletos não representando os avanços, e muito menos refletindo os estudos acadêmicos e discussões da área.
Desde o lançamento da nova edição, um grupo de mais de 300 artistas que trabalham com ficção visual e escrita para crianças e jovens se fizeram representar nas redes sociais e criaram um movimento para discutir essas mudanças. O engajamento da área mostra a preocupação de um grupo que percebe o impacto desse retrocesso dentro do mercado, com a imposição desse novo formato do Prêmio. Uma carta-manifesto foi assinada por nomes já agraciados com o Jabuti, como Ziraldo, Roger Mello, Maria Valéria Rezende e João Anzanello Carrascoza e enviada à CBL no dia 26 de maio. O conteúdo do manifesto sugeria a proposta de um encontro com a CBL e o curador para discutir três pontos: a) junção das categorias infantil e juvenil; b) categoria ilustração infantil e juvenil (narrativa visual artística) ter sido alocada para a categoria ilustração no eixo Livro (dentro do caráter técnico, e portanto, não criativo) e c) critérios dogmáticos de avaliação.
O encontro aconteceu na terça-feira da semana passada, dia 05 de junho. A solicitação da CBL era a presença de apenas três pessoas representando o grupo de mais de 300 artistas. Com o aval dos 300 artistas, uma comissão menor representada por mim, Renato Moriconi e Aline Abreu conversou com Luís Antônio Torelli (Presidente da CBL), Fernanda Gomes Garcia (Diretora-Executiva da CBL), Luiz Armando Bagolin (Curador do Prêmio Jabuti) e Evelina Fyskatoris (Comissão do Prêmio Jabuti – CBL). Dos três pontos acima, a CBL concordou em repensar somente os critérios de avaliação dogmáticos, solicitando ao grupo a sugestão de novos critérios.
Por ter participado ativamente desse processo de discussão, ouvindo todas as partes e, acreditando e respeitando na CBL como entidade importante e representativa da área, essa coluna tem a pretensão de chamar atenção para questões ligadas a Literatura Infantil e Juvenil, de como as mudanças do Prêmio Jabuti impactam o trabalho de artistas, editores, promotores de leitura e principalmente, afetando os leitores e a leitura.
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