Neta de Clarice Lispector ilustra livro clássico da avó publicado há quase 50 anos

ESTADÃO - Bia Reis - 04/10/2017 |

“Essa mulher que matou os peixes infelizmente sou eu. Mas juro a vocês que foi sem querer. Logo eu! Que não tenho coragem de matar uma coisa viva! Até deixo de matar uma barata ou outra.
Dou minha palavra de honra que sou pessoa de confiança e meu coração é doce:
perto de mim nunca deixo criança nem bicho sofrer.
Pois logo eu matei dois peixinhos vermelhos que não fazem mal a ninguém
e que não são ambiciosos: só querem mesmo é viver.
Pessoas também querem viver, mas felizmente querem também
aproveitar a vida para fazer alguma coisa de bom.
Não tenho coragem ainda de contar agora mesmo como aconteceu. Mas prometo que no fim deste livro contarei e vocês, que vão ler esta história triste, me perdoarão ou não.
Vocês hão de perguntar: por que só no fim do livro?
E eu respondo:
– É porque no começo e no meio vou contar algumas histórias de bichos que eu tive, só
para vocês verem que eu só poderia ter matado os peixinhos sem querer.”

Não há resenha que dê conta de fazer um convite melhor a esta leitura do que este começo de livro. Trata-se de A Mulher Que Matou os Peixes (Rocco Pequenos Leitores), de Clarice Lispector, e que foi relançado com novo projeto gráfico. Clarice já revela o final – confessando o crime – e provoca a vontade de entender porque outras histórias iriam influenciar na opinião do leitor, que tem todo o direito de perdoá-la ou não. É um “vai encarar ou não”?

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