O Globo - Daniel Salgado - 19/08/2017 |
As obras de Jorge Luis Borges são abrangentes, universais. Viajam por pampas argentinos, visitam mesquitas de Córdoba, adentram palácios imperiais da China e evocam, em certa medida, o objeto que dá nome ao seu conto mais famoso: o Aleph, a esfera achada num sótão de Buenos Aires que permite observar o mundo inteiro e gera mais perguntas do que respostas sobre o que revela.
Por isso, as páginas de seus contos, ao mesmo tempo independentes e dialogando entre si, são uma viagem rumo ao desconhecido. É para ajudar os desbravadores a adentrar mais profundamente na mente do argentino que surge “Borges babilônico”, uma enciclopédia que se propõe a mapear as pessoas, os lugares e conceitos tão caros como referências ao autor.
O projeto reúne mais de mil verbetes sobre a produção literária de Borges. Não é tarefa fácil, tratando-se de uma obra tão dada ao mistério, que repetidamente apaga a linha entre real e ficcional. Obras de um autor que, citando Marco Polo, reforça sua visão de que “o real não é mais verdade do que o inventado”.
Para completar a hercúlea tarefa, Jorge Schwartz, acadêmico da USP que lecionou cursos sobre Borges ao longo das últimas décadas, elencou mais de 60 colaboradores. São especialistas brasileiros e estrangeiros, como Júlio Pimentel e Beatriz Sarlo, e até autores como o argentino Ricardo Piglia.
— São verbetes curtos e longos, alguns quase pequenos ensaios. Mas com uma condição: todos tratam, sem exceção, de Borges. Uma coisa é explicar quem foi um filósofo do Renascimento. Isso se encontra pela internet. No livro, você vê como a obra dele (do filósofo) foi digerida e interpretada por Borges — explica o organizador, que contou com a ajuda de Maria Carolina de Araújo na organização editorial do projeto.
A ideia do livro passou por uma longa gestação, e teve início quando Schwartz supervisionou as traduções das obras completas do escritor argentino no fim da década de 1980.
Ler Mais: O Globo