Forte presença feminina e negra pode melhorar Flip, escreve curadora

Folha de São Paulo - Joselia Aguiar - 23/07/2017 |

Quando assumi a curadoria da 15ª Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), de início evitei pensar em autores preferidos ou nos imediatamente lembrados em conversas informais ou de trabalho que passei a ter. A primeira lista que fiz para pesquisar os possíveis convidados incluía gente de quem ouvira falar e ainda pouco conhecia –como Edimilson de Almeida Pereira, poeta negro de Juiz de Fora que, sem atenção da grande imprensa, era elogiado por seus pares.

Com ajuda do Google, encontrei o site de sua editora, a Mazza. Pediram meu endereço na resposta que me enviaram por e-mail. Não havia se passado uma semana quando uma amiga me telefonou de Minas Gerais. Tinha participado de uma banca e saíra animada com a tese que investigava matrizes africanas em poéticas brasileiras. O autor não era outro senão o poeta que eu tinha procurado pela internet.

A coincidência me levou a escrever para o próprio, a fim de lhe pedir uma cópia em PDF. "Foi um doutorado?", quis saber. "Não, uma defesa para me tornar professor titular." Uma caixa de livros da Mazza chegou pelo correio pouco depois. Dentro, dezenas de obras de sua autoria ou em coautoria, entre poesia, ensaio e infantis.

A escolha de Lima Barreto (1881-1922) como autor homenageado em 2017 reforçou minha disposição de buscar o que estava fora do centro. Tomei-lhe como guia na direção dos subúrbios –não apenas o do Rio de Janeiro em que ele viveu mas também os do mundo–, e foi assim que encontrei línguas, culturas e mitos no Piauí, na Jamaica, em Ruanda e na Islândia, obras que cruzam fronteiras étnico-raciais, geopolíticas e de linguagem.

A minha diligência foi garantir paridade –no total, 22 homens, 24 mulheres– e ter maior número de autores e autoras negros, percentual que chegou a 30%. Essas somas obtive após o esforço de combinar nomes de diferentes origens, gêneros, tonalidades e gerações, baseada na ideia, corrente em universidades estrangeiras, de que os choques culturais são maiores num ambiente diverso, o que pode contribuir para ampliar a qualidade. Juntá-los em duplas e trios para compor as mesas levou-me à operação seguinte: identificar afinidades e influências em comum, pontos de contato e semelhanças em sua arte e atuação.

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