Flip abre 15ª edição em versão enxuta e recorre a espaço da Igreja Matriz

O Globo - André Miranda, Leonardo Cazes e Mateus Campos - 26/07/2017 |

PARATY — A Flip está entre nós, e nada — ou quase nada — faltará nesta 15ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). A dúvida sobre seu andamento se deve às mudanças provocadas pela crise financeira, que diminuiu a verba de patrocínio e obrigou a organização da festa a readequar os espaços da programação. Com isso, a Flip apelou, literalmente, a Deus.

As 18 principais mesas de debates acontecerão dentro da Igreja Matriz de Nossa Senhora dos Remédios, espaço histórico de Paraty, de estilo neoclássico, inaugurado em 1873. A mudança de sede pegou tanto os paratienses quanto os turistas de surpresa.

Uma parte dos moradores achou estranho que um templo católico fosse alugado — por R$ 50 mil, um valor considerável — para um evento em que não são raros palavrões ditos por debatedores e que já presenciou, até, uma autora fazendo um striptease no palco (Juliana Frank, no ano passado, felizmente interrompida antes do grand finale). Pároco da cidade desde 2001, o padre Roberto Carlos Pereira chegou a ser criticado por ter cedido aos apelos da Flip.

— A Flip é um evento literário em que os autores se expressam livremente. E é justo que seja assim — afirma o historiador paratiense Diuner Mello, autor do livro “Festa do Divino Espírito Santo em Paraty: manual do festeiro”. — Mas, no ano passado, uma escritora chegou a ficar seminua. A igreja é um lugar sagrado para grande parte da nossa gente. E se eles tocarem em pontos sensíveis para a Igreja, como o casamento gay? A comunidade católica pode se sentir desrespeitada. Haverá censura aos autores? Censura não pode nem deve acontecer. Então o padre corre um grande risco.

Mas as críticas não foram unânimes. O próprio padre Roberto não quis dar entrevistas sobre a polêmica, mas enviou um comunicado para a comunidade em que explicou seus motivos. Ele disse: “Coloquei as exigências da Igreja e os cuidados necessários com o prédio, e eles aceitaram. A Flip corria o sério risco de acontecer de um jeito decepcionante. Poderia até mesmo acabar, o que seria ruim para toda a nossa cidade. A gente sabe como ela é importante, muita gente depende do turismo”.

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