Conheça os projetos da Biblioteca Nacional para 2017: entrevista com a presidente Helena Severo

Ministério da Cultura - 13/04/2017 |

Com quase 30 anos de atuação na área cultural, Helena Severo enfrenta mais um desafio: estar à frente da Biblioteca Nacional, uma das maiores instituições do gênero do mundo. Servidora da casa, ela esteve cedida ao Tribunal de Contas do Município por 12 anos e voltou para assumir a presidência da Biblioteca Nacional em agosto de 2016. Seus principais objetivos são finalizar as obras de infraestrutura do prédio e dar continuidade aos projetos da instituição, como os programas de pesquisa e tradução. A seguir, Helena fala sobre sua trajetória e os planos para a Biblioteca Nacional em 2017.

Como começou sua carreira na área cultural?
Sou formada em Direito pela PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro) e tenho mestrado em Ciência Política pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Cheguei a advogar por três anos, depois desisti, indo fazer  fazer mestrado.  A partir daí fui entrando no  no mundo da gestão  culturral. Tive uma breve passagem pela TVEe, em seguida fui nomeada vice-presidente da Funarj (Fundação de Artes do Estado do Rio de Janeiro), em 1987. Depois, assumi a direção do Museu da República, em 1989, onde fiquei por três anos. Em 1992, assumi a Secretaria de Cultura do Município do Rio de Janeiro ficando por lá  até 1998. Na ocasião, pedi uma licença sem vencimentos para trabalhar em São Paulo como  coordenadora  da Itinerancia Nacional da "Mostra do redescobrimento-Brasil 500 Anos". Depois voltei para o Rio, assumindo a Secretaria de Cultura do Estado. Por último, fui presidente da Fundação Theatro Municipal, onde permaneci por quatro anos. Em seguida, fui requisitada pelo Tribunal de Contas do Município. Em 2016, voltei para assumir a presidência da Biblioteca Nacional, da qual sou servidora desde 1990.

O que significa a cultura para você?
Cultura é o conjunto de valores, herdados de nossas tradições e criados pelas circunstancias de nossa historia. São estes valores  que forjam e fundamentam  nossa  visão de mundo.  As identidades nacionais são formadas pelos valores culturais que, por sua vez, inspiram aspectos predominantes no processo de desenvolvimento de um povo.

Suas experiências anteriores contribuíram para o trabalho que realiza agora?
Muito.  Foram experiências acumuladas que me ajudam a ter mais clareza.

Como encontrou a Biblioteca Nacional?
Destacaria três pontos que considero relevantes: o prédio, a gestão de projetos e programas e a perspectiva de construir um futuro para isso tudo. O prédio  histórico ,que tem mais de 200 anos e deve passar por obras de restauro periódicas. Hoje temos duas questões muito sérias em relação à estrutura do prédio: a obra de recuperação das fachadas, que começou em janeiro. E a obra de restauração do sistema elétrico  que estamos retomando e considerando prioritária  porque de sua conclusão  dependem a refrigeração e a climatização do prédio.  A  ausência de climatização e refrigeração provoca pelo menos duas  consequências terríveis  Primeiro, o sofrimento que o calor inclemente do verão carioca impõe aos servidores.. Segundo, os possíveis danos ao  acervo precisa ser mantido em boas condições de climatização. Cerca de 90% de nosso  acervo é composto por papel. A climatização fundamental  para que o papel se mantenha em boas condições, além de evitar fungos, cupins... Por todas estas razões é muito importante climatizar o acervo da biblioteca e, para isso, temos que concluir a obra do sistema elétrico do prédio.

E qual a previsão de conclusão dessa obra?
Acredito que até meadios do ano, realisticamente falando. A partir daí,  já teríamos condições de começar as obras  de climatização e refrigeração.

Quais os desafios de realizar obras em um prédio histórico?
Qualquer intervenção em um prédio histórico tem de obedecer a parâmetros muito rigorosos. Nós trabalhamos numa parceria muito próxima com o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Tudo que tem sido feito tem o aval dos técnicos do Iphan. É um cuidado que deve ser observado o tempo inteiro.

Quais são os projetos para 2017?
Queremos ampliar a BN Digital, uma iniciativa vitoriosa que envolve a digitalização e difusão do acervo. Estão sendo abertas duas novas frentes, a Brasiliana Fotográfica e a Brasiliana Iconográfica. Hoje, a BN Digital tem 12 milhões de acesso por ano, o que não é pouca coisa. Nossa grande ambição é nos transformarmos numa espécie de Google da memória nacional, levando em conta  que a Biblioteca Nacional guarda grande parte da memória documental brasileira. Estamos fazendo acordos com outras instituições, como Arquivo Nacional e Instituto Moreira Salles, o que amplia enormemente nossa capacidade de armazenar dados e disponibilizá-los para o grande público. Outro projeto é dar sequência às exposições que começamos a fazer em 2016. Já em maio estaremos abrindo uma exposição "200 Anos da Revolução Pernambucana" que ocupará todo o terceiro andar do prédio historio a, mais, a área de obras raras  Na sequencia estamos programando  uma mostra com um recorte da  coleção Thereza Christina de fotografias adquirida pelo Imperador Pedro II. A ideia é fazer uma exposição com o segmento ruínas. A coleção reúne preciosidades, como imagens de ruínas de Alepo, Síria, Damasco, Jerusalém, entre outras; Tambem temos programada uma exposição   de cartografia com documentos dos séculos XVI a XVIII. A ideia é criar um diálogo entre a cartografia histórica com a moderna tecnologia, como Google Maps. Ainda este ano programamos uma mostra  com obras do gravurista italiano Piranesi. Temos um acervo muito relevante e precioso dele em nosso acervo dele na Biblioteca Nacional;

Como são planejadas essas exposições?
Tomamos como politica   privilegiar curadores da casa. È claro que, eventualmente, teremos curadores convidados . Mas desejamos sobretudo  valorizar os servidores da casa.

Há previsão de editais para 2017?
Vamos manter nossa política de concessão de bolsas de pesquisa e de tradução, talvez ampliar. São programas muito importantes e concorridos. Despertam interesse tanto junto a pesquisadores nacionais quanto estrangeiros . A política de tradução da literatura brasileira no exterior é importantíssima, amplia o acesso a nossa pelo mundo afora. Outra coisa que quero fazer é implementar um programa de visitas guiadas de alunos de escolas públicas. Já estou em contato com a Secretaria de Educação do Município do Rio para tentar viabilizar a ideia.

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