Morre o escritor João Gilberto Noll, vencedor de cinco Jabutis, aos 70

O Globo - 29/03/2017 |

Morreu na noite de segunda-feira, aos 70 anos, João Gilberto Noll, vencedor de cinco prêmios Jabuti. A família confirmou o falecimento do escritor gaúcho. A causa da morte não foi divulgada oficialmente, mas a suspeita é de mal súbito. Segundo familiares, o velório já está sendo realizado e o enterro está previsto para as 18h desta quarta-feira, no Cemitério João XXIII, em Porto Alegre.

Com 18 livros publicados — 13 romances, três compilações de contos e duas obras infantojuvenis —, Noll marcou seu nome na história da literatura brasileira com títulos como "O cego e a dançarina", de 1980. Pelo livro de contos, recebeu, além do Jabuti, os prêmios de revelação do ano, da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) e de ficção do ano, do Instituto Nacional do Livro. Foi traduzido para o espanhol, o inglês e o italiano.

Nascido em Porto Alegre em 15 de abril de 1946, Noll viveu no Rio de Janeiro entre 1969 e 1986, onde concluiu a faculdade de Letras, fez inúmeras colaborações em jornais como "Folha da Manhã" e "Última Hora", e deu aulas na PUC.

Conhecido por sua reclusão, o autor mantinha uma vida solitária em seu apartamento em Porto Alegre. Segundo sua agente literária Valeria Martins, da Oasys Cultural, familiares entraram em seu apartamento, na terça-feira à noite, depois de ser avisada de que ele não havia comparecido a uma oficina literária que estava ministrando. Noll teria sido encontrado já sem vida em seu quarto. Médicos confirmaram a morte por causas naturais.

Em entrevistas, o autor costumava dizer que não gostava de planejar muito os caminhos de sua ficção. Em 2008, quando participou da Festa Literária de Paraty, em mesa compartilhada com a cineasta argentina Lucrécia Martel, Noll comentou sobre seu processo de criação.

— Eu não escrevo com uma programação. Deixo que os cavalos mentais me arrastem. Me deixo levar e, só depois, me torno um obsessivo pela limpeza do texto — disse ele. — Mas eu não sou um sujeito naturalista.

Era, sim, um autor interessado em explorar o inconsciente. Tanto que se dizia muito influenciado por Nelson Rodrigues — escritor que, em sua percepção, foi incomparável em tratar do inconsciente do homem médio. A solidão e a perda de sentido eram temas recorrentes em suas obras.

Ler Mais: O Globo