PIOLHOS-DE-COBRA / Marcondes Araujo
Já se tornou lugar-comum a famosa definição de Julio Cortázar de que, numa comparação com a luta de boxe, o conto se diferencia do romance porque, enquanto este vence o leitor por pontos, aquele o vence por nocaute. Mas é impossível não trazê-la à baila, quando lemos os 19 contos que compõem Piolhos-de-cobra, primeiro livro publicado pelo escritor Marcondes Araujo, vencedor do XI Prêmio Literário Livraria Asabeça 2012, categoria Contos. Todas essas histórias curtas, algumas bem curtas mesmo (com o máximo de concisão que o conto exige), tem como característica um desfecho ora surpreendente, ora impactante, ora comovente.
Ou as três coisas ao mesmo tempo. E mesmo quando a história termina em aberto, para que o seu desenlace fique a critério da imaginação do leitor, a perspectiva que se abre é sempre no sentido de provocar um desconforto existencial ou intelectual, cumprindo-se, assim, a missão da verdadeira obra de arte, que é a de incomodar, inquietar, nunca trazer conforto ou soluções.
Ou as três coisas ao mesmo tempo. E mesmo quando a história termina em aberto, para que o seu desenlace fique a critério da imaginação do leitor, a perspectiva que se abre é sempre no sentido de provocar um desconforto existencial ou intelectual, cumprindo-se, assim, a missão da verdadeira obra de arte, que é a de incomodar, inquietar, nunca trazer conforto ou soluções.
Os 19 contos que compõem o livro Piolhos-de-cobra, do escritor Marcondes Araujo, demonstram o domínio do autor sobre as diversas técnicas de se conduzir uma história curta. Para cada história, um ritmo apropriado, uma linguagem adequada à psicologia do personagem, a escolha certa do foco narrativo para o delineamento da atmosfera que melhor auxilia na construção da narrativa. Em algumas, as frases longas e quase metrificadas, e bem próximas da oralidade, reforçam a perplexidade ou a incompreensão dos personagens com o seu próprio destino, ou dos que lhe cercam: é o caso de Elizabeth e Aquela mulher. Em outros, a simultaneidade do presente e do passado sustentam uma trama de profunda densidade psicológica, como em Redenção e O pássaro.
Há narrativas simples e despretensiosas, semelhantes à contação de uma história familiar numa roda de amigos, e que, justamente por esta simplicidade, potencializam a emoção ou o impacto do seu desfecho: Tio José, Minha prima Helena, O sonho de meu pai, Lurdinha e as Sete Casas. E há também as histórias cujo efeito dramático resulta do deslocamento de acontecimentos inexpressivos do cotidiano para uma imprevisível dimensão transcendental: O pensamento esquecido e Sincronicidade. E há, finalmente, a criação de situações absurdas, mas nem por isto inverossímeis, bem ao modo do realismo fantástico, para se denunciar a desfaçatez religiosa, como em Jesus-meu-deus, ou se compreender a solidão humana, como no conto que dá título a este livro.
Há narrativas simples e despretensiosas, semelhantes à contação de uma história familiar numa roda de amigos, e que, justamente por esta simplicidade, potencializam a emoção ou o impacto do seu desfecho: Tio José, Minha prima Helena, O sonho de meu pai, Lurdinha e as Sete Casas. E há também as histórias cujo efeito dramático resulta do deslocamento de acontecimentos inexpressivos do cotidiano para uma imprevisível dimensão transcendental: O pensamento esquecido e Sincronicidade. E há, finalmente, a criação de situações absurdas, mas nem por isto inverossímeis, bem ao modo do realismo fantástico, para se denunciar a desfaçatez religiosa, como em Jesus-meu-deus, ou se compreender a solidão humana, como no conto que dá título a este livro.
Serviço:
Piolhos-de-Cobra
Marcondes Araujo
Scortecci Editora
Contos
ISBN 978-85-366-3147-9
Formato 14 x 21 cm
72 páginas
1ª edição - 2013
Marcondes Araujo
Scortecci Editora
Contos
ISBN 978-85-366-3147-9
Formato 14 x 21 cm
72 páginas
1ª edição - 2013