“Não sei ao certo quanto tempo terei para contar, portanto, perdoe-me se deixar escapar alguns detalhes. A partir deste momento faço de você minha testemunha. Deixo à sua responsabilidade e ao seu discernimento os fatos que serão narrados a seguir. [...] Você deve estar se perguntando o motivo de minha agitação, imagino. Talvez eu não seja o narrador ideal para uma história como essa, mas sinto dizer-lhe: não vim aqui inventar baboseiras, essa é a minha vida e preciso deste registro! Você entenderá, cedo ou tarde...”. Registro encontrado num canto sujo de um imóvel vazio. Sem sinal de seu autor, que imprime nessas páginas a sua existência. Um homem aparentemente comum, pelo que pude ler. Até aquela tarde... Fazia calor, ele descreve bem. Ali tudo mudou. Um acidente, um grito: Corta!.
Vamos com esses móveis! – gritava, apressando os meus comandados. O prazo era apertado... Tínhamos o período da tarde para esvaziar o local! O barulhento caminhão, do lado de fora da residência, despertava a curiosidade da pacata vizinhança. Sofrendo com o suor e o fedor do estresse, o meu estado era de dar inveja a um porco. Cidadezinha dos infernos!, resmungava, rogando praga ao sol que castigava aquela moradia do interior paulista.
– É o último, chefe! – tranquilizou-me Cleiton, um homenzarrão de idade avançada, carregando, quase que sozinho, um grande sofá de tecido vinho. Olhei para o imóvel vazio. Graças a Deus! Quando, prestes a virar e sair pela ornamentada porta de entrada da sala de estar, um bloco de papéis chamou-me a atenção. Xingando mentalmente os meus desastrados funcionários, corri para pegar a documentação que ficara abandonada para trás.
– Mas o que...
Aquilo não era da empresa. Longe disso! Parece um diário..., pensei, folheando-o. Intrigado, li a sua primeira página e quase tive um infarto.
– Tá tudo bem, chefe? – mur-murou uma voz grave atrás de mim.
– Sim, claro – respondi, ainda de costas – Vamos logo...
Guardei-o comigo, muito bem escondido. Até agora...
André Borelli lê e escreve ficção desde criança. Nascido em 1992, escreveu seu primeiro “livro” aos 9 anos de idade – A Pedra Mágica. Formado ator, pelo Teatro Escola Macunaíma em 2009, e bacharel em Comunicação Social com habilitação em Rádio e TV, pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo em 2013, André Borelli viu surgir nos palcos uma paixão. A atuação em diversas peças de teatro e o trabalho no backstage do musical da Broadway O Rei Leão (2013-14) despertaram-lhe o desejo pela pesquisa em outras áreas da arte teatral. Especializou-se em Direção Teatral na ESCH em 2015 e, concomitantemente, iniciou seu trabalho como dramaturgo com a tragicomédia A Ponte – primeira montagem de seu grupo teatral: Gruparteiro de Teatro. Autor do livro de ficção infanto-juvenil A Lenda Vagalume (2015), Borelli decidiu, nesta sua nova obra, explorar o dinâmico e enigmático universo do suspense policial. Com uma narrativa ágil e uma trama repleta de reviravoltas, CORTA! surge como um prazeroso jogo para os amantes do gênero.
Serviço:
Corta!
André Borelli
Scortecci Editora
Ficção
ISBN 978-85-366-4827-9
Formato 14 x 21 cm
192 páginas
1ª edição - 2016
R$ 35,00