O travessão é um sinal de pontuação. Uma ponte! Representa conexão, superação de obstáculos, encontros. Simbolismo de desejos, sonhos, possibilidades. Segundo o mestre Evanildo Bechara (1928–2025), autor da "Moderna Gramática Portuguesa" ele serve para substituir vírgulas, parênteses, colchetes, assinalar uma expressão intercalada, indicar uma mudança de interlocutor num diálogo — ou denotar uma pausa forte. Mil e uma utilidades! Eu uso e abuso — exageradamente — dos travessões. Gosto deles! Andei conferindo as minhas poesias e os meus últimos textos — de 2022 pra cá — e notei que eles — os travessões — fazem parte da minha escrita diária. Minhas crônicas, na maioria, publicadas nos volumes da coleção “Menino tipográfico e outras histórias” estão repletas de travessões, de dois pontos, interrogações e exclamações. Uso, cada vez menos, parênteses — mais em datas de nascimento e morte —, nada de divisão em parágrafos, nada de ponto e vírgula e nada de reticências. Lendo sobre Inteligência Artificial — sobre a marca da besta — dos rastros deixados pelos robôs, o travessão — ele mesmo — está na berlinda. Diz a matéria: “Usuários experientes, estudiosos, que conhecem e usam a ferramenta, afirmam que o travessão seria um sinal claro de que um texto foi escrito por um ‘chatbot’“. Afirma, ainda, que as ferramentas tendem a usar frases de transição como “além disso”, “por outro lado” e “em conclusão” de forma sistemática e padronizada. Listou, por fim, 13 itens — dicas relevantes, talvez — a serem observados. São elas: “Ausência de opiniões ou ponto de vista, formalidade excessiva, tom consistente e impessoal, excesso de polidez, estrutura previsível, frases muitos longas, poucas variações e repetições de palavras, falta de erros gramaticais naturais, ideias repetidas, falta de profundidade em tópicos mais complexos, uso de exemplos genéricos e desconexão cultural e contextual.” Ponto. Aqui com os meus travessões, com as minhas travessias, as minhas ilhas, que povoam o meu universo de estrelas: assim fica difícil navegar! Pergunta: “É preciso?” No rádio, o jornalista esportivo Dirceu Marchioli — o Dirceu Maravilha — resfolega: “Eu quero é mais!”. Gosto dele: mesmo sendo um corintiano — sem H. Volto, então, para o travessão, para o sinal da besta. Além disso, por outro lado, em conclusão, respondo-me: viver não é preciso?
João Scortecci
Escritor, Editor, Gráfico e Livreiro.
scortecci@gmail.com