Qual é o futuro das distribuidoras de livros no Brasil?

Publishnews - José Henrique Guimarães - 05/04/2018 |

O negócio de atacado e distribuição de livros no Brasil atravessa uma crise histórica que extrapola a atual crise econômica brasileira. São múltiplos os fatores endógenos e, ao meu ver, os principais são: a estagnação do mercado de livros no Brasil e no mundo nas últimas décadas e a transferência das vendas do varejo para grandes redes de livrarias e para o e-commerce.

A boa notícia, no entanto, é que, nos EUA e Europa, o setor vive um bom momento, devido à diversificação de serviços e categorias de produtos em um mesmo escopo operacional, tais como: prestação de serviços logísticos, impressão por demanda, venda de e-books e áudio books, música, presentes e papelaria, entre outros.

Além disso, por lá, o setor passa por um importante movimento de consolidação de mercado. Basta observar os exemplos dos dois maiores atacadistas americanos (Ingram e Baker & Taylor), que nos últimos anos expandiram seus negócios de forma inorgânica, adquirindo empresas que não somente deram ganho de escala, mas que acrescentam novos canais, serviços e competências. As duas empresas juntas faturam hoje aproximadamente U$ 5 bilhões, o equivalente a R$ 16,5 bilhões de reais. Isso é uma boa fatia do mercado americano cujas vendas para o varejo alcançaram a cifra de U$ 14,3 bilhões em 2016. Só a título de comparação, o valor faturado pelas duas empresas equivale a aproximadamente três vezes o faturamento das editoras brasileiras juntas.

Em 2016, a Ingram adquiriu a divisão de distribuição do grupo Perseus, e a sua grande rival Baker &Taylor comprou a Bookmaster, uma importante distribuidora com forte presença no negócio de impressão por demanda (POD) e impressão de baixas tiragens.  A Espanha passa por movimentos parecidos. Lá, a principal sinergia entre as empresas, no momento, é a cobertura geográfica, surgindo daí a figura de grandes atacadistas nacionais, em um país onde a tradição de distribuidores regionais é grande. É o caso da recente fusão entre os grupos Azeta e Unyban.

Mas porque razão as distribuidoras em todo mundo não estão sofrendo tanto quanto as grandes redes de livrarias? A resposta está parcialmente dada acima, isto é, a diversificação de serviços e a consolidação.

Mas não para por aí. Há uma outra razão afeita à microeconomia do negócio: o distribuidor em comparação ao varejo, para crescer ou fundir-se com outras empresas, não replica custos fixos na mesma proporção.

Numa visão simplificada desta matemática, uma rede de livrarias físicas para duplicar suas vendas precisa duplicar o número de lojas e os custos fixos agregados, tais como aluguel, funcionários e infraestrutura.

Para o distribuidor é possível fazer um movimento de expansão sem o mesmo impacto em custos fixos. Ainda mais considerando o maior acesso que há hoje a tecnologias aplicadas, tais como: WMS (Warehouse Management System) troca eletrônica de documentos (EDI), metadados, e-commerce B2B e marketing digital. Isso torna por exemplo possível pensar-se em margens líquidas (EBIT) de dois dígitos, como é a média do setor atacadista americano como um todo.

Ler Mais: Publishnews