Brasil tem mais de 500 mil cegos, mas oferta de livros em braille ainda é limitada

Estadão - Hyndara Freitas - 08/04/2018 |

Logo nos primeiros anos de vida, as crianças aprendem o alfabeto e a formar sílabas, os números e as primeiras operações matemáticas, mas e no caso das crianças cegas? As mesmas práticas valem, porém é o braille o sistema de escrita e leitura usado. De acordo com dados do IBGE de 2010, há cerca de 500 mil pessoas incapazes de enxergar no Brasil e mais de 6 milhões com algum tipo de deficiência visual.

Este sistema de escrita e leitura tátil é usado por pessoas cegas ou com baixa visão, e possibilita que essas pessoas leiam de livros a rótulos de alimentos, de botões de elevador a bulas de remédio, de teclas de máquina de lavar a dados de contas a pagar. Entretanto, sua inserção nos mais variados objetos ainda é limitada – limitando, consequentemente, o acesso de cegos a tarefas básicas do dia a dia.

Mesmo com recursos de leitura digital, muito utilizados em computadores, o braille continua sendo o sistema utilizado na alfabetização de cegos. “De uma certa forma, as pessoas veem esses recursos como substitutos do braille, mas eles não são, pois quando os cegos usam esses recursos, eles estão simplesmente ouvindo, mas não estão aprendendo como se escreve uma palavra, a ortografia, por exemplo”, explica Regina Oliveira, Coordenadora de Revisão da Fundação Dorina Nowill para Cegos e membro do Conselho Mundial e do Conselho Ibero-americano do Braille.

O dia 8 de abril marca o dia nacional do braille, que está listado como um dos recursos que devem ser respeitados na sociedade para inclusão da pessoa com deficiência visual, de acordo com a Lei Federal 13.146/2015. Para as pessoas cegas, ter a maior quantidade de textos em braille em seu dia a dia significa autonomia.

Cleide Severiano é revisora de textos da Fundação Dorina Nowill e foi alfabetizada em braille apenas na fase adulta, pois quando era criança ela não ia à escola. Ela conta que já viu algumas melhorias na acessibilidade de cegos no dia a dia, mas acredita que ainda há muito a ser feito, e elenca atitudes simples que poderiam ajudar muito os cegos.

“Quando eu vou ao supermercado, por exemplo, eu já encontro algumas embalagens em braille, mas às vezes as pessoas simplesmente não sabem armazenar o produto e colocam peso em cima. Com isso, a gente vai ler uma caixa às vezes e não consegue porque o braille está marcado”, exemplifica Cleide.

Porém, a sensação de conseguir fazer suas compras sozinha é libertadora. “Quando eu pego uma caixinha e consigo ler o nome, dá uma sensação de autonomia, de liberdade incrível. No mercado, nas farmácias, quando eu toco ali e encontro o produto que quero, leio em braille, é uma emoção muito grande para mim”, diz. Mas o braille está presente tanto em rótulos de produtos quanto nos livros – e a leitura é uma paixão que ultrapassa o fato de enxergar ou não.

A opção mais comum quando se pensa em leitura para cegos é o livro em áudio. As editoras, inclusive, são obrigadas a fornecer os PDFs dos livros para possibilitar ativar os recursos de leitores digitais em áudio, mas, assim como há pessoas que enxergam que preferem os livros físicos, os leitores cegos também querem ter essa opção.

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