As escritoras que tiveram de usar pseudônimos masculinos – e agora serão lidas com seus nomes verdadeiros

BBC Brasil - Camilla Costa - 15/04/2018 |

O romance Middlemarch: um estudo da vida provinciana, lançado em 1874 pelo escritor George Eliot, é considerado hoje uma das melhores obras da literatura inglesa. A escritora Virginia Woolf chegou a chamá-lo de "um dos poucos livros ingleses feitos para gente grande".

Na França, no mesmo século 19, George Sand também deixava sua marca na literatura. Ele foi descrito pelo autor russo Fiódor Dostoiévski como ocupante do "primeiro lugar nas fileiras dos escritores novos". Recentemente, o governo francês debateu enterrar seus restos mortais no Pantheón, ao lado de nomes como Victor Hugo e Voltaire.

Curiosamente, ambos os Georges, o britânico e o francês, eram mulheres, que usaram pseudônimos masculinos para publicar.

George Eliot era Mary Ann Evans, que assinou artigos com seu próprio nome em um jornal. Ao se aventurar pelo mundo da ficção, no entanto, ela adotou a identidade masculina e chegou a escrever um ensaio chamado Silly Novels by Lady Novelists (Romances bobos de mulheres romancistas, em tradução livre), criticando os romances escritos por mulheres, para se distanciar de outras autoras de sua época e para que seu trabalho fosse levado a sério.

George Sand era a francesa Amantine Dupin, uma das autoras mais prolíficas de sua época. Ela escrevia contos de amor e de diferenças de classe, criticando as normas sociais. E também escreveu textos políticos e peças, que encenava em um teatro particular.

"Naquela época, uma mulher que tinha atividade intelectual estava cometendo uma transgressão enorme", disse à BBC Brasil Sandra Vasconcelos, professora titular de Literatura Inglesa e Comparada da Universidade de São Paulo (USP).

"As que ousavam publicar usando seus próprios nomes recebiam muitas críticas, porque estavam extrapolando o papel designado para elas. A maioria acaba usando pseudônimo porque não quer se expor publicamente."

Agora, um projeto brasileiro da empresa HP e e de uma agência de publicidade quer estimular a leitura dessas e de outras autoras com novas capas, que mostram seus nomes reais.

"Queríamos reimprimir a História, que, por diversos motivos, não trataram bem essas autoras", disse à BBC Brasil Keka Morelle, a diretora de criação do projeto OriginalWriters (Escritoras originais, em tradução livre).

Os livros das autoras do século 19 e do início do século 20, principalmente europeias, já estavam disponíveis no site Gutenberg Project - um projeto que oferece, gratuitamente, mais de 50 mil obras de domínio público.

Ler Mais: BBC Brasil