Embaixador e escritor João Almino toma posse na cadeira 22 da ABL, nesta sexta-feira, dia 28 de julho, às 21 horas, no Petit Trianon

Academia Brasileira de Letras - 28/07/2017 |

“Otimisticamente, essa experiência única de vivência complexa, que só a literatura é capaz de nos dar, se multiplicada por números crescentes de leitores, talvez possa até ser um modo de limitar os cultos sectários, as certezas fundamentalistas e a exacerbação do “nós contra eles” que cada vez mais parecem ameaçar nosso tempo”, afirmou, em seu discurso de recepção ao romancista João Almino, a Acadêmica e Ana Maria Machado

O embaixador e escritor potiguar João Almino tomou posse na Cadeira 22 da Academia Brasileira de Letras (ABL), nesta sexta-feira, dia 28 de julho, em solenidade no Salão Nobre do Petit Trianon. O novo Acadêmico foi eleito no dia 8 de março deste ano, na sucessão do Acadêmico e médico Ivo Pitanguy, falecido no dia 6 de agosto de 2016.

Em nome da ABL, a Acadêmica e escritora Ana Maria Machado fez o discurso de recepção. Antes, João Almino discursou na tribuna. A seguir, assinou o livro de posse. Logo após, o Presidente da ABL, Acadêmico e professor Domício Proença Filho, convidou o Acadêmico e professor Arnaldo Niskier (segundo a tradição, o decano presente) para fazer a entrega da espada; o embaixador e historiador Alberto da Costa e Silva para fazer a aposição do colar; e o Acadêmico e embaixador Geraldo Holanda Cavalcanti para entregar o diploma. O Presidente, então, declarou empossado o novo Acadêmico.

Os ocupantes anteriores da cadeira 22 foram: Medeiros e Albuquerque (fundador) – que escolheu como patrono José Bonifácio, o Moço –, Miguel Osório de Almeida, Luís Viana Filho e Ivo Pitanguy.

O novo Acadêmico assegurou em seu discurso a preocupação com a literatura, lembrou o inconformismo de seus antecessores e a importância de não se perder de vista o compromisso social ou político:

 “A literatura, não é feita para apaziguar o espírito, mas para aguçá-lo. Não é feita para opinar, expor demonstrações ou resolver problemas, o que cabe melhor noutras formas de expressão.

Os romancistas podem alienar a verdade em troca de uma boa frase quando esta revela a verdade mais profunda da própria ficção. Se o poeta é um fingidor, imagine o ficcionista! Embora nesse trabalho de invenção possam ser incluídos registros e documentos, isso não é o cerne da obra de ficção.

Seu compromisso não é com a conjuntura, dinâmica pela natureza; nem com a verdade factual, mutável com o surgimento de novas informações. É com a história não oficial, alternativa ou subterrânea e deve ir além da verdade e da realidade, sob pena de perder sua dimensão de fantasia, que traz em si forma peculiar de transmissão de conhecimento.

Dois e dois nem sempre são quatro e não só por formarem o número da cadeira que comento. Nem todos os meus antecessores tiveram obra engajada no sentido estrito, mas todos foram inconformistas. Seus trabalhos não perderam de vista o compromisso social ou político, o que não deveria jamais faltar num país com alarmantes índices de educação e de pobreza e com desigualdades sociais, raciais e regionais extremas”.

“É sobretudo ao romancista que a Casa de Machado de Assis abre as portas, acolhendo uma escrita de ficção que começou a ser publicada na década de 1980. (...) nesta casa, por enquanto, eu vinha sendo a única outra representante dos ficcionistas que estrearam nesse momento em nossa literatura.

Essa coincidência talvez nos faça compartilhar um entendimento por dentro do que significava se lançar às feras e aos leitores naquele momento. Insistir no poder da linguagem ficcional. Reiterar a fé na capacidade e na força da ficção para mergulhar na natureza humana, na complexidade social, no entendimento histórico em seu direito e avesso. Algo que poderia parecer ultrapassado e extemporâneo na ocasião em que, mais do que nunca, se insistia em dar a morte do romance como inquestionável, associada ao inescapável fim da História com  H maiúsculo, como Francis Fukuyama logo enterraria na virada da década.

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