Correspondência entre José Saramago e Jorge Amado revela uma enorme cumplicidade entre eles

O Estado de São Paulo - Ubiratan Brasil - 22/07/2017 |

A primeira missiva é assinada apenas por “José”, foi escrita em Lisboa e tem como data dezembro de 1992. E a última foi enviada justamente de Salvador, com assinaturas de quase toda a família: Jorge, Zélia, Paloma. Era o dia 8 de outubro de 1998, exatamente quando aquele José, o Saramago, foi anunciado como primeiro autor em língua portuguesa a ganhar o prêmio Nobel de Literatura.

São poucas linhas, mas reveladoras da intimidade cultivada entre os dois escritores, especialmente no assunto que sempre lhes interessa: prêmios literários. Essa troca de confidências e de agrados compõe o livro Jorge Amado e José Saramago - Com o Mar Por Meio, que reúne uma seleção da correspondência trocada entre eles. O lançamento oficial acontece às 21h de sexta-feira, 28, na Casa José Saramago, em Paraty, durante a Flip, que será aberta no dia 26.

O projeto nasceu depois de uma série de boas coincidências. Em Salvador, os pesquisadores da Fundação Casa de Jorge Amado, onde repousa o acervo do autor baiano, estavam digitalizando justamente as cartas enviadas por Saramago com a intenção de publicar um livro quando Pilar del Río, mulher do escritor português, propôs de as duas famílias montarem uma casa na Flip, onde se discutisse essa troca de cartas.

Ubiratan Brasil, O Estado de S.Paulo
22 Julho 2017 | 06h00
A primeira missiva é assinada apenas por “José”, foi escrita em Lisboa e tem como data dezembro de 1992. E a última foi enviada justamente de Salvador, com assinaturas de quase toda a família: Jorge, Zélia, Paloma. Era o dia 8 de outubro de 1998, exatamente quando aquele José, o Saramago, foi anunciado como primeiro autor em língua portuguesa a ganhar o prêmio Nobel de Literatura.

São poucas linhas, mas reveladoras da intimidade cultivada entre os dois escritores, especialmente no assunto que sempre lhes interessa: prêmios literários. Essa troca de confidências e de agrados compõe o livro Jorge Amado e José Saramago - Com o Mar Por Meio, que reúne uma seleção da correspondência trocada entre eles. O lançamento oficial acontece às 21h de sexta-feira, 28, na Casa José Saramago, em Paraty, durante a Flip, que será aberta no dia 26.

O projeto nasceu depois de uma série de boas coincidências. Em Salvador, os pesquisadores da Fundação Casa de Jorge Amado, onde repousa o acervo do autor baiano, estavam digitalizando justamente as cartas enviadas por Saramago com a intenção de publicar um livro quando Pilar del Río, mulher do escritor português, propôs de as duas famílias montarem uma casa na Flip, onde se discutisse essa troca de cartas.

“Foi uma explosão de alegria”, conta Paloma Amado, filha de Jorge. “Escrevi para Pilar sobre o livro que estávamos preparando e logo o projeto estava criado.” Paloma e Pilar, aliás, assim como Zélia Gattai, viúva de Amado, são figuras constantes na conversa epistolar entre os dois grandes autores, que se conheceram pessoalmente já em idade avançada - foi em 1990, quando ambos participaram, em Roma, do júri do prêmio da União Latina. A amizade se intensificou no ano seguinte, quando voltaram a ser jurados. Tanto Amado como Saramago lutavam para que o prêmio fosse para um escritor de língua portuguesa.

“A amizade com Jorge Amado começou aí, pelejando, ombro com ombro”, observou Saramago em um texto escrito em agosto de 2012, por ocasião da morte do baiano. Foi a primeira das inúmeras afinidades que logo os dois descobriram compartilhar. Nascia uma amizade rara em um meio no qual a competição dita, muitas vezes, as relações. “Eles compartilhavam o mesmo espírito de generosidade”, atesta Paloma.

“Eram duas pessoas que, diante do protocolo social que inibe as relações humanas, praticavam a saudável naturalidade”, completa Pilar. “Capazes de rir, donos (ambos) de um grande sentido de humor, de ironia - e também da autoironia -, estavam destinados a se entenderem. Se encontraram tarde, mas as longas conversas que mantiveram não deixaram recantos a explorar. A cordialidade que demonstram nas correspondências é uma mostra de como podem se tratar, e se tratam, as pessoas livres e sem preconceito.”

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