Português é hoje a quarta língua mais falada no mundo

Ministério da Cultura - 26/04/2017 |

Com mais de 800 anos de história – documentos mais antigos no idioma datam de 1215 –, a língua portuguesa vive em eterna transformação. Desde o século XVIII, o número de palavras cresceu de 50 mil para 500 mil, e é atualmente a quarta língua mais falada do mundo, atrás do mandarim, do espanhol e do inglês. Ao todo, são 260 milhões de falantes do português, e este número deve crescer para 387 milhões em 2050, de acordo com projeções das Nações Unidas divulgadas em 2016.

O português é o idioma oficial de nove países – Brasil, Portugal, Angola, Cabo Verde, Guinés Bissau e Equatorial, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. Todos estarão representados na X Reunião de Ministros da Cultura da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que será realizada nos dias 4 e 5 de maio, em Salvador.

Em cada uma dessas nações, o idioma ganha contornos diferentes. "A língua tem a ver com o comportamento da sociedade. As pessoas a modificam continuamente. Por mais que ela tenha estabilidade para servir de meio de comunicação, as pessoas criam novos âmbitos. No passado, não existiam tantas profissões, hoje existem centenas. Evidentemente, isso traz novidades", explica o professor Gilvan Muller de Oliveira, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

O português seria a última língua derivada do latim vulgar falado no Lácio, um sítio histórico da Itália, no qual a cidade de Roma foi fundada e cresceu até se transformar na capital do Império Romano. A língua portuguesa era considerada inculta, porque era falada pelas camadas mais populares, mas, sem perder a beleza jamais, como diz o poeta brasileiro Olavo Bilac (1865-1918), em seu soneto Língua Portuguesa, no qual se refere à língua como "a última flor do Lácio, inculta e bela".

Hoje, somente em Portugal e no Brasil o português é a língua da maioria da população, a língua hegemônica. Nos demais países, o português é língua oficial, isto é, a língua do governo, da administração pública, da justiça, da educação etc., mas não é a língua empregada no dia a dia pela maioria da população. Por isso, nas ex-colônias portuguesas da África, assim como em Timor-Leste, o modelo de língua que se usa e se ensina é o português europeu. Quando comparamos o português europeu e o português brasileiro, as diferenças são realmente muito grandes em todos os níveis da língua: fonética (pronúncia), morfossintaxe (gramática), léxico (vocabulário) etc.

"Alguns estudiosos até preferem dizer que já são duas línguas diferentes, muito aparentadas, sim, mas com diferenças bem marcantes", explica o professor de linguística da Universidade de Brasília (UnB) Marcos Bagno.

Em Portugal, o mouse do computador é chamado de rato. Em Angola, geleira significa geladeira, já no Brasil, é uma grande massa de gelo. Por outro lado, temos no dicionário brasileiro uma variedade de palavras que tiveram origem na África, mais especificamente do grupo bantu. Caçula, dengo, fubá, marimbondo, muvuca, cachaça, canga e banguela são algumas das palavras incorporadas ao nosso vocabulário que herdamos dos africanos.

No entanto, embora as pessoas em geral se atenham às diferenças de vocabulário, essas são as menos importantes. Segundo Bagno, o que faz uma língua ser diferente de outra é a sua gramática. "Não por acaso, desde o início deste novo século, diversos linguistas brasileiros têm publicado obras gramaticais específicas sobre o funcionamento da nossa língua, do português brasileiro, e não de uma ‘língua portuguesa' genérica", ressalta o professor.

Oliveira destaca que a surpresa dos brasileiros em relação a algumas palavras da língua usadas de outras formas é um sinal do nosso isolamento na comunidade que fala português. "Fora o Brasil, os outros países de língua portuguesa têm muita comunicação entre eles. O único isolado somos nós. Não passam na mídia brasileira programas de países de língua portuguesa. Tivemos o caso da novela portuguesa Equador, exibida dublada no Brasil em 2014. Lá fora, nosso português não é dublado. As estratégias para manter o brasileiro fechado são muito negativas para nossa circulação no mundo", critica.

Acordo Ortográfico

Normas legais determinam a ortografia da língua portuguesa. Em 1931, houve uma primeira tentativa de acordo ortográfico entre Brasil e Portugal, mas que acabou sendo interpretado de forma diferente pelos dois países. Em Portugal, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, de 1940; no Brasil, o Pequeno Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, de 1943, acompanhado de um formulário ortográfico. No intuito de acabar com as divergências, foi assinado um novo acordo ortográfico, em 1945, adotado apenas por Portugal, continuando o Brasil a seguir o Formulário Ortográfico de 1943.

Somente em 1990 os países chegaram a um consenso, assinando o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, ratificado pelos países que compõem a CPLP. Mudanças como o fim do trema e novas regras para o uso do hífen e de acentos diferenciais tornaram-se oficiais no Brasil em 2016, com a entrada em vigor do acordo, adiada por três anos pelo governo brasileiro.

Para o professor Bagno, o acordo ortográfico é uma falsa questão, já que existem outras coisas mais importantes, como a educação do povo. "Temos a apavorante estatística de 75% de analfabetos funcionais, isto é, pessoas que tiveram algum acesso à cultura letrada, mas não a desenvolveram e, por isso, não conseguem ler e escrever de forma minimamente satisfatória. Em Portugal a nova ortografia ainda enfrenta muita resistência, e com razão: na medida em que considero que brasileiros e portugueses falam línguas diferentes, as diferenças ortográficas servem para assinalar essas distinções", frisa.

Já para o professor Oliveira, o acordo tem sim sua importância. "O acordo trouxe uma reunificação da ortografia. Todos os países sentaram ao redor da mesa e combinaram. Não foi só um ato de Brasil e Portugal, como anteriormente. Nasce uma nova forma de olhar para o português. O acordo tem importância política, trata do modo como a língua é gerida. Para isso que a CPLP ajuda, e para isso que existe o Instituto Internacional da Língua Portuguesa da CPLP", ressalta.

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