Autores nunca foram tão influentes, diz CEO da editora HarperCollins

Folha de São Paulo - Maurício Meireles - 01/04/2017 |

O executivo americano Brian Murray está há 20 anos na HarperCollins –um décimo da idade da editora, uma das cinco maiores do mundo, que completa agora seu bicentenário. Desde janeiro, a empresa dos EUA detém o controle total de sua operação no Brasil, depois de comprar a participação da Ediouro (25%).

Em São Paulo, o CEO da empresa concedeu entrevista à Folha. Ele reconhece a importância do mercado audiovisual para as contas das editoras, mas nega uma perda de influência da palavra escrita.

Também comentou a recente falta de um grande filão que estimule o mercado internacional, uma vez que as principais séries infantojuvenis chegaram ao fim. Para ele, os ciclos desse tipo ocorrem a cada cinco anos. Leia abaixo trechos da entrevista à Folha.

Quando surgiram rumores de que a HarperCollins viria ao Brasil, o país estava em um momento de prosperidade. Diante da crise, vocês se arrependem de ter vindo para cá?

Atravessamos guerras, recessões, altos e baixos de todo tipo no mercado de língua inglesa. Nosso investimento tem um horizonte largo adiante. Não estamos pensando em dois anos. O Brasil é um país, jovem e grande.

Há dois anos não surge uma grande tendência no mercado editorial no mundo. Séries infantojuvenis como "Crepúsculo" e "Divergente" chegaram ao fim. Há algo no horizonte?

Adoraria saber a próxima. Posso falar sobre os EUA. Depois de "A Garota no Trem", surgiram vários livros com "garota" no título. Agora, surgiram vários com "órfão", mas não sei se isso vai dar certo. Surgirão outras séries. Minha experiência mostra que surgem em ciclos de cinco anos.

Precisar tanto do mercado de cinema e TV para vender não é um sinal de que os livros já não são tão influentes?

Acho que é um bom sinal. Há um investimento em narrar histórias. Como cresceu muito a demanda por televisão, [os estúdios] estão buscando os livros porque houve um esgotamento de personagens adaptados. Quando acabaram as franquias de super-heróis, eles vieram atrás das editoras. Para mim, é um sinal de que os autores nunca foram tão influentes como agora.

O mercado audiovisual trabalha com muitos autores em linha de produção, com uma série de fórmulas. Isso vai ser reproduzido nos livros?

Há o James Patterson [autor americano, que escreve com uma equipe de autores], mas ele é único. Tem autores que escrevem o primeiro livro sozinhos e para o segundo chamam um co-autor. Acho que esse modelo do cinema só funciona na autopublicação, onde o autor vai publicando capítulo a capítulo e testando assim a reação dos leitores.

O Brasil discute há alguns anos a possibilidade de haver uma lei do preço fixo do livro, que limitaria os descontos dados por livrarias. Como você avalia a adoção de leis desse tipo?

Nos mercados em que há preço fixo, vejo maior estabilidade no varejo, o que gera mais investimentos no mercado editorial. Toda a cadeia tem segurança sobre qual será a margem [de lucro] em cada elo da corrente. O preço fixo oferece isso, e o dinheiro flui.

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